Saboreando a Palavra
A fé que rompe barreiras” – Lc 7,1-10 – Este texto de Lucas é de uma extrema atualidade. Jesus, após “falar ao povo”, certamente ao “seu povo da Galileia”, entrou em Cafarnaum, cidade por onde passava uma rota comercial e por onde circulavam muitas pessoas, também estrangeiras. É neste contexto que Lucas situa esta narrativa, na qual o autor acentua uma simpatia dos judeus pelos romanos, ou seja, por pessoas não judaicas. Há outras passagens do 3º Evangelho nas quais ocorre esta mesma visão positiva dos romanos. Isto se deve ao fato que as comunidades primitivas eram constituídas por judeus e pagãos, e os judeus tinham muito dificuldade de conviver com os nãos Judeus. Lucas assim acentua Jesus rompendo as fronteiras e acolhendo os estrangeiros. Na narrativa do capítulo sete, temos um centurião romano, uma autoridade, um estrangeiro, que envia alguns anciãos dos judeus para pedir a Jesus que venha curar seu servo. Afirma-se que o centurião amava muito este seu servo. Este homem já vivia o grande mandamento de Jesus para todos os seus seguidores: “Amai-vos”. Os anciãos dos judeus dão boas referências do centurião e dizem que ele merece ser atendido. Jesus acolhe o pedido e vai com eles, provavelmente para a casa do centurião, mas este não se considera digno de recebê-lo em sua casa. Tem consciência que é estrangeiro, é romano, conhece as leis de pureza dos judeus e, acima de tudo, reconhece a autoridade de Jesus, maior que a dele, mesmo sendo centurião. Sabe bem o que significa ter autoridade. Basta uma palavra de Jesus e a palavra de Jesus produz seus efeitos. De fato, a palavra se antecipou, pois quando chegaram em casa, o servo já estava curado.
Temos muito a aprender da atitude de Jesus e do centurião. Jesus acolhe o pedido vindo de uma pessoa estrangeira e este, o centurião romano, reconhece sua condição de não ser digno, de não merecer tal favor, mas crê em Jesus e sua na palavra, confia, busca a cura de seu servo a quem muito ama.
Nos tempos atuais, a cada dia cresce entre as nações, na sociedade, em nossas Igrejas e mesmo entre nós, a não acolhida, a intolerância, a violência com quem pensa diferente, é de outra religião, de outra nacionalidade, de outra cor de pele ou condição social. E num mundo globalizado, vamos nos encontrar com um número cada vez maior de “estranhos” em nosso caminho. Não só de estrangeiros, mas de crianças que pedem esmolas, de mulheres prostituídas, de refugiados a serem acolhidos, de mendigos que recolhem o lixo que nós descartamos. Na Vida Consagrada, e também nas famílias, vivemos o desafio de acolher e respeitar o diferente, de romper fronteiras especialmente as mentais, reconhecer que não somos merecedores de tudo o que temos, crescermos na gratuidade, ter a compaixão parecida com a que ama, acolhe, liberta, cura e salva. Respeito, acolhida, hospitalidade são caminhos da “graça do cuidado” para se chegar à plenitude da misericórdia para a qual estamos sendo neste ano tão vigorosamente convocados. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ.
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