Saboreando a Palavra
”Festa da Assunção de Maria” – Lc 1,39-56 – Dia da Vida Consagrada – A Liturgia da Igreja do Brasil propõe para este domingo o texto da “visita de Maria a Isabel”, narrativa esta que faz parte dos relatos da Infância de Jesus segundo Lucas, capítulos 1 e 2. Essas narrativas, mais do que contar fatos ocorridos, indicam realidades mais profundas que iluminam a caminhada das comunidades para as quais se destinam. Para melhor saborear estes relatos, vamos dividi-lo em três momentos: a) Ida de Maria à casa de Isabel e de Zacarias (Lc 1,39-41); b) Saudação que Isabel faz a Maria (Lc 1,42-45); c) Reação de Maria à saudação de Isabel (Lc 1,46-55). A ida de Maria à casa de Isabel é uma caminhada de mais de 100 km. Quando foi chamada para ser a mãe do Messias, Maria havia se disponibilizado para estar a serviço da Palavra de Deus (Lc 1,38). Agora, ela já está a caminho para ser solidária com outra mulher, também grávida. É a solidariedade entre as mães que reconhecem em seus corpos o agir do Espírito divino, pois ambas receberam a graça da fecundidade de forma misteriosa. Uma muito jovem e virgem, outra bem idosa e estéril. A saudação de Isabel a Maria faz lembrar outras mulheres que também foram chamadas de “benditas”. São os casos de Jael (Jz 5,24) e de Judite (Jd 13,18), ambas libertadoras de seu povo ameaçado por exércitos poderosos. Maria “ficou três meses com Isabel”. Os autores querem nos ajudar a mergulhar no mistério mais profundo de Deus. Da mesma forma como Maria ficou três meses com Isabel, a antiga Arca da Aliança havia ficado três meses na casa de Obed-Edom (2Sm 6,2-11). Em outras palavras: Maria é a nova Arca da Aliança. Por isso os pulos de alegria de João no ventre de Isabel (Lc 1,41.44), acolhendo o novo que está por nascer. A terceira parte do relato é a reação de Maria à saudação de Isabel. Temos o belo cântico conhecido como Magnificat (Lc 1,46-55). Ele está recheado de memórias da história de Israel, especialmente do canto de Ana, a mãe do profeta Samuel (1Sm 2,1-10) e outras profecias em defesa dos pobres. Maria é a legítima representante de todos os pobres que têm esperança. Ela percebe a presença de Deus e se alegra com sua grandeza. E o motivo dessa alegria é que, tal como na experiência libertadora do Êxodo, Deus viu a humilhação dos pobres e exerce sua misericórdia para com eles, estando ao seu lado para libertá-los. Mais que ser uma mulher submissa e ignorar os conflitos sociais de seu tempo, Maria é uma mulher engajada na busca de igualdade e de superação de todas as injustiças. Ela subverte as relações de humilhação propondo a acolhida e a fraternidade. Não é por acaso que o filho seguiu os seus passos nesse caminho. É no engajamento pela superação de todas as formas de opressão que revelamos a misericórdia divina em nossa prática. A justiça de Deus se revela em seu agir na defesa dos fracos e contra todos os sistemas que os oprimem, sejam eles políticos ou econômicos, culturais, jurídicos ou religiosos. Nesse agir libertador se manifesta a aliança fiel e misericordiosa esperada desde as origens do povo hebreu. O Magnificat celebra a esperança na realização da vontade de Deus que liberta. Convida a todas as pessoas discípulas de Jesus, especialmente a Vida Religiosa Consagrada, a nos juntarmos a Maria para colocar-nos a serviço desse projeto de Deus, de modo que também em nós se realize a sua Palavra. A ação divina em Maria foi possível porque ela acreditou (Lc 1,45), ela deu a sua contribuição, colocando-se a serviço de Deus na solidariedade. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ
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