Saboreando a Palavra

28/08/2018

”O desafio da alegria em tempos de crise” – Mt 11,2-11 – Estamos no 3º domingo do Advento, domingo este que nos convida à alegria porque o “Senhor está perto”. O Evangelho, porém, vem carregado de uma profunda crise existencial. Como continuar crendo que o “Senhor está perto”, quando tudo parece ruir? A pergunta que João Batista faz na prisão expressa grandes dúvidas, crises e angústias que nós também conhecemos muito bem: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” Na solidão de uma cela de prisão e recebendo notícias sobre a ação que Jesus começara a desenvolver, o profeta é tomado pela dúvida e pela perplexidade. Do ponto de vista do encarcerado, faltavam os sinais do fogo que queimaria os ímpios, o machado que golpearia as árvores estéreis que não estavam dando frutos. O Messias que eliminaria o pecado do mundo impondo o juízo rigoroso de Deus não se manifestava. Um Deus todo-poderoso que ela havia anunciado não poderia demonstrar compaixão e paciência. A atuação de Jesus deixou João Batista em crise, totalmente desconcertado. Aos enviados de João, Jesus responde com sua vida de profeta dedicado a curar feridas e aliviar sofrimentos: “Digam a João o que estão vendo e ouvindo: os cegos veem e os paralíticos andam; os leprosos estão curados e os surdos ouvem; os mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa Notícia”. Segundo Pagola, Jesus se sente enviado por um Pai misericordioso que deseja para todos um mundo mais digno e feliz. Por isso, se entrega a curar feridas, sanar doenças e liberar a vida. Pede a todos: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. Jesus não se sente enviado por um juiz rigoroso para julgar os pecadores e condenar o mundo. Pede a todas e todos: “Não julgue para não ser julgada/o”. Jesus nunca cura de forma arbitraria ou por sensacionalismo. Cura, movido pela compaixão, buscando restaurar a vida das pessoas abatidas, doentes e desanimadas. São estas as primeiras que tem a experiência de Deus amigo da vida digna e saudável. Jesus não insistiu no caráter prodigioso de suas curas, nem fez delas receita fácil para suprimir o sofrimento do mundo. Apresentou sua atividade curadora como símbolo para seus seguidores compreenderem em que direção atuar para abrir caminhos ao projeto humanizador do Pai que Ele chamava “Reino de Deus”. O Papa Francisco afirma que “curar feridas” é uma tarefa urgente: “Vejo com clareza que o que a Igreja necessita, hoje, é uma capacidade de curar feridas e oferecer calor, intimidade e proximidade aos corações… Isto é a primeira coisa: curar feridas, curar feridas”. Depois, fala em “cuidarmos das pessoas, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa e consola”. Fala, também, de “caminhar com as pessoas na noite, saber dialogar, descer à noite escura sem perder-se”. Ao confiar sua missão aos discípulos, Jesus não os imaginava como doutores, hierarcas, liturgistas e teólogos, mas como curadores. A missão é dupla: proclamar a proximidade do Reino de Deus e curar as/os doentes. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ

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