Ascensão do Senhor
“Vós sois testemunhas disso” – Lc 24,46-53 – SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR – Celebramos neste domingo a festa da Ascensão de Jesus, a meta final da caminhada cristã, a grande utopia humana: a comunhão plena e definitiva com Deus. A ascensão de Jesus não é um fato ocorrido apenas no fim de sua vida terrena; é uma realidade presente ao longo de toda a sua existência, a incessante busca da comunhão com o Senhor. Assim sendo, não se deve ler os relatos da ascensão como um fato ocorrido num determinado tempo e lugar, como um relato jornalístico. Os “40 dias” após a Páscoa é uma datação carregada de simbolismo. Recorda os 40 anos de deserto, os 40 dias de jejum de Jesus e outras referências ao longo da Sagrada Escritura. Estes relatos, com lugar determinado, com descrição detalhada, são uma catequese para os seguidores de Jesus a fim de prosseguirem com confiança em busca da vida plena em Deus. Este evento não é apenas uma “elevação” de Jesus ao céu. É a convocação aos seguidores de Jesus para se empenharem e se engajarem na caminhada, com a responsabilidade da implantação da obra de Jesus no mundo, dando testemunho da salvação de Deus. É sim o dia da “solenidade da Ascensão do Senhor”, mas é também o dia da “celebração do mandato missionário”. Pode-se inclusive afirmar que “Ascensão” e “Missão” são dois lados de uma mesma moeda. Esta experiência de estar em comunhão íntima com o Pai é assim descrita, tanto em Atos quanto nos Evangelhos, como um elevar-se, um “ascender às alturas”. Trata-se de um gênero literário próprio da literatura evangélica, especialmente a lucana. O Mistério da presença divina em nós não cabe em nossa linguagem humana. Vemos que os discípulos também não compreenderam este mistério, pois ficaram extasiados, olhando para o alto. A voz divina se manifesta de imediato e o mandato missionário não tarda: “homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu”? É hora de ser “Igreja em saída”. No texto do Evangelho que a liturgia nos convida a escutar, temos as últimas instruções de Jesus dadas aos discípulos. Situando um pouco mais, Jesus inicia recordando as Escrituras a respeito do Messias. Recordar o passado, para iluminar o presente e projetar o futuro é uma pedagogia literária permanente nas Escrituras. Jesus recorda o passado para mostrar que no presente os discípulos são testemunhas de tudo. E Ele enviará Aquele que foi prometido pelo Pai’. Devem ficar na cidade em vigilância. Diferente de Mateus e Marcos, para Lucas Jesus pede aos discípulos que permaneçam em Jerusalém até serem “revestidos com as forças do alto”. Em Mateus e Marcos, os discípulos devem voltar à Galileia e a ascensão, segundo Mateus, se dá num “monte da Galileia”. Em Lucas a cena da Ascensão de Jesus é colocada “junto de Betânia”, onde viviam Lázaro, Marta e Maria, amigos de Jesus. Tanto num quanto no outro, as indicações geográficas estão ao serviço da “catequese” e das preocupações teológicas dos evangelistas. Para Lucas, Jerusalém é o centro para onde tudo converge e de onde tudo se expande. É lugar onde irrompe a salvação de Deus e de onde essa salvação parte ao encontro do mundo. Por isso, a ascensão de Jesus e o envio dos discípulos tinham de ser situados em Jerusalém. O que importa é a teologia presente no relato: depois de realizar a sua missão, Jesus foi glorificado e reentrou na glória de Deus. Ele abençoa os discípulos, vai se afastando e os discípulos ficam inundados de “alegria”, assumem ser “peregrinos de esperança”, em estado de espera pela vinda do Espírito Santo. A partir de então, realiza-se a “Igreja em saída”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ