Domingo de Páscoa

08/04/2023

Viu a pedra retirada do sepulcro – Jo 20,1-9 – Domingo da Páscoa! A pedra foi removida e Jesus Ressuscitou. Mistério maior não se pode imaginar. O relato que temos para “saborear” hoje é de uma beleza incontida em nosso imaginário. Os cenários, os gestos e palavras, a vida que circula entre os personagens presentes, tudo revela a dinâmica da Ressurreição. Ressurreição não é um ato passado, isolado, que ocorre com hora e lugar determinados, mas é um processo que vai se dando à medida que vamos “retirando as pedras dos nossos sepulcros”….

O texto começa com uma indicação aparentemente cronológica, mas que deve ser entendida em chave teológica: “no primeiro dia da semana”. Trata-se do inicio de um novo tempo, de uma nova criação. A primeira personagem em cena não é Eva, mas Maria Madalena. Ela é a primeira a dirigir-se ao túmulo de Jesus, quando o sol ainda não tinha nascido, na manhã do “primeiro dia da semana”. O que ela vê de imediato é que a pedra foi removida. Uma informação, certamente, de profundo significado. Para que a vida prevaleça, pedras precisam ser removidas. Isto ocorreu com Lázaro e agora com Jesus.

Madalena viu a pedra removida. No relato, Madalena é personagem representativa da nova comunidade, do novo povo que tem Jesus como seu Messias esperado. Ela percorreu todo o caminho do seguimento, experimentou o fracasso, o desamparo, a desilusão, a derrota, viu seu mestre crucificado da forma mais humilhante e cruel. Porém, diante da pedra removida do túmulo, diante do sepulcro vazio, compreendeu que a morte não foi a última palavra. Há vida para além da morte. Jesus continua vivo.

Esta grandiosa boa notícia gera mudança total no modo de ser e de viver da comunidade. O comportamento ativo dos dois discípulos, Pedro e o “discípulo amado” é uma descrição da vida nova trazida ao mundo. Provavelmente, o autor do quarto Evangelho quis descrever, através destas figuras, o impacto produzido nos discípulos pela morte de Jesus e as diferentes disposições existentes entre os membros da comunidade cristã. Em geral Pedro representa, nos Evangelhos, o discípulo obstinado, para quem a morte significa fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da cruz. Ao contrário, o “outro discípulo”, o “discípulo amado”, está sempre próximo de Jesus, faz a experiência do amor. Com a notícia trazida por Madalena, de forma muito decidida, corre ao sepulcro e “percebe” que a morte não pôs fim à vida. Esse “outro discípulo” é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que está em sintonia total com Jesus, que corre ao seu encontro com um total empenho, que compreende os sinais e logo crê que Jesus está vivo. Ele é o paradigma da nova humanidade que, junto com Maria Madalena, é movido pelo amor.

A ressurreição de Jesus revela que a vida plena, a vida total, a transfiguração total da nossa realidade finita e das nossas capacidades limitadas passa pelo amor que se dá, com radicalidade, até às últimas consequências.

Neste mundo de conflitos, violência, assassinatos, competições e incompreensões, a ressurreição de Jesus alimenta nossos sonhos e nos faz esperar contra toda esperança.

“Eu tenho um sonho: esculpir na montanha do desespero uma pedra de esperança” (Martin Luther King). Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ