Domingo de Ramos

30/03/2023

O momento supremo da vida doada – Mt 26,14 – 27,66 – A liturgia deste último domingo da Quaresma, conhecido como “domingo de Ramos”, convida-nos a contemplar o momento supremo de uma vida doada por amor. Jesus se encarnou em nossa realidade, partilhou de nossa humanidade, fez-Se servo do ser humano e deixou-Se crucificar para salvar a humanidade marcada pelo egoísmo, pelo ódio, pela violência e toda espécie de maldade.

As diversas leituras deste dia são profundamente reveladoras. Por ser domingo de Ramos, corre-se o risco de ficarmos focados apenas nos ramos, nas aclamações e nos Hosanas, distraídos da Palavra de Deus que são proclamadas neste dia. Além do relato da entrada de Jesus em Jerusalém, que se proclama na bênção dos Ramos, temos como 1ª leitura, do livro do profeta Isaías, uma caracterização do verdadeiro discípulo: ouve, fala, age a modo de discípulo. Na segunda Leitura, o hino cristológico da carta aos Filipenses, canta o mais belo poema do mistério daquele que se aniquilou. O Evangelho, certamente longo em seu relato, nos convida a mergulharmos na contemplação do momento supremo da revelação do amor de Deus. Impossível mais que isto.

O relato da paixão é feito pelos quatro evangelistas, porém Mateus tem detalhes ausentes nos demais Evangelhos. Um estudo e meditação mais demorados desta narrativa pode nos ajudar a ver e compreender as razões destas diferenças. Mateus descreve como o anúncio do Reino choca com a mentalidade da opressão econômica, política, especialmente “Religiosa” e que este anúncio conduz Jesus à cruz e à morte. A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam o mundo.

Segundo Mateus, Jesus logo percebeu que o Pai o mergulhara na história da Salvação e o evangelista repete como um refrão: “para que se cumprisse a Escritura”.  O Pai chamou Jesus para anunciar um mundo novo de justiça, a justiça do “Reino dos céus”. Para concretizar este projecto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade do mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus não excluía ninguém; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos, não eram amaldiçoados;  ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”; e avisou os “ricos” (os poderosos, os instalados), de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.

Este projeto entrou em choque com as autoridades politicas e religiosas, que não estavam dispostas a abandonar sua forma de ser, de pensar e de agir. Seus privilégios, seu poder e domínio eram um valor absoluto. Acusaram, montaram um processo diabólico e mataram Jesus. E não de qualquer forma: o crucificaram, a forma mais cruel de extermínio de uma pessoa.

Na lógica do Evangelho, porém, a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, mais radical e mais verdadeira daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço. Na cruz aparece a humanidade transformada, a plenitude do humano,  que faz de sua vida um dom. Jesus é o maior sinal de contradição, como afirmara o velho Simeão no templo. Na cruz está a radical contradição: morte cruel, assassinato violento, tortura sem medidas, blasfêmias e humilhações, não mais reconhecido como homem. Fulgor e resplendor contemplado pelas mulheres, a mais pura transparência do divino saindo do mundo dos mortos. É a plenitude de uma vida doada. Proclamemos hosanas com ramos de oliveira, não porque Jesus entra em Jerusalém, mas porque nos abre os horizontes da plenitude  de uma vida doada.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ

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