Feliz Natal! Paz e Bem!

22/12/2020

O divino que se fez humano – É desnecessário dizer que o Natal de 2020 será marcado para sempre na história da humanidade e muitas leituras se fizeram e se fazem desta experiência única. Novas luzes se farão necessárias para nutrir a fé de toda a humanidade que terá que celebrar o Natal de forma mais “originária”, ou seja, mais “próximo da origem”. Afirma-se que o natal é a festa em que o divino se faz humano e o humano se faz divino. E trata-se do “humano” mais frágil, mais insignificante, mais sem reconhecimento. A mulher escolhida para ser a protagonista de toda esta história é uma jovem pobre, é virgem, (algo desconsiderado na época), não é casada, é de Nazaré, o “não lugar”  daquele mundo, da região da “Galileia das nações”. O divino vem a nós na forma de uma criança e que nasce em situação de extrema fragilidade. Não podia haver condições mais adversas para o nascimento de uma criança! “Não há lugar” para o divino nascer entre os humanos. Isto já se constitui numa grande denúncia! Os animais acolhem aquele que os humanos foram incapazes de acolher. A notícia deste acontecimento foi proclamada por “arautos invisíveis” e foi dada para pessoas “invisibilizadas” do contexto social de então: “Pastores” que cuidam de rebanhos durante a noite. Foram estes “invisíveis” que encheram aquela noite de luz. Quando o divino se faz humano “aniquilado”, o humano aniquilado se faz divino. Então celebramos o Natal de Jesus de Nazaré. A liturgia do natal busca celebrar este grande mistério com uma riqueza de textos sagrados que não somos capazes de alcançar todo o seu sentido. Os Evangelhos das diversas missas trazem narrativas que necessitam de leituras “por traz das palavras”, ou seja, leituras que vão além de narrativas históricas (Lc 2,1-14)  e que consigam chegar ao novo “princípio” (Jo 1,1-8), no qual o “divino se fez humano” e “habitou entre nós”. Na leitura da missa da noite (Lc 2,1-14), vemos Lucas preocupado com as referências históricas, pois quer mostrar que não se trata de um acontecimento “lendário”. Mostra que o nascimento de Jesus se integra no plano de salvação de Deus, plano que os profetas anunciaram e cuja realização os pobres aguardavam ansiosamente. Todo o simbolismo presente na narrativa de Lucas mostra que é na pobreza, na simplicidade, na fragilidade, que Deus se manifesta ao mundo e oferece a salvação. O plano de Deus não se impõe pela força das armas, pelo poder do dinheiro ou outros meios grandiosos. Deus escolhe vir ao encontro da humanidade na simplicidade, na fraqueza, na ternura de um menino nascido no meio de animais, na absoluta pobreza. É assim que Deus entra na nossa história… É assim a lógica de Deus. Na “missa do dia” – Jo 1,1-18 – esta lógica é celebrada por meio de um grande hino cristológico, que afirma que a luz resplandeceu nas trevas e que Deus entrou na história humana para reconduzi-la à plenitude. O caminho para esta plenitude é a encarnação de Deus na realidade frágil, mortal, corrupta, passageira, esta realidade contaminada por tantas “pandemias”. Neste Natal somos desafiados/as a crer que Deus vem a nós na realidade de um “vírus” que assolou o mundo. Deus se faz um “humano infectado”. Cabe a nós ”infectados” ou “ameaçados”, nos divinizarmos. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ