Jubileu eterno de Irmã Cassiana de Sousa Capanema

15/06/2023

Ir. Cassiana

 

IRMÃ CASSIANA  DE SOUSA CAPANEMA

 

* 14.05.1929     +  14.06.2023

 Irmã Cassiana, que no Batismo recebeu o nome de Maria de Sousa Capanema, nasceu no distrito de Taquaraçutuba, município de Imaruí/SC, aos 14 de maio de 1929. É a segunda filha do casal Augusto Bittencourt Capanema e Alzira de Sousa Capanema, que tiveram quatro filhas e um filho adotivo. Ela conta em sua autobiografia que teve uma infância muito feliz e que desde pequena via sua mãe repartir o que tinham com os pobres, principalmente, com as pessoas idosas da localidade. Portanto, o amor para com os preferidos de Jesus ela aprendeu desde cedo, no seio familiar. Sua vocação religiosa foi muito influenciada pelas leituras que fazia na infância, adolescência e juventude. Seu pai assinava a Revista Ave Maria, o Apóstolo e Ecos Marianos de Nossa Senhora Aparecida. Mais tarde comprou um volume do Novo Testamento. Essas leituras a ajudaram a discernir o que realmente queria para sua vida. Irmã Cassiana, quando ingressou no Aspirantado, em nossa Congregação, já era professora, pois fez seus estudos na própria localidade onde morava e depois em Laguna, fez o Curso Regional, junto com outras oito colegas que caminhavam com ela 4 horas por dia para chegar até a Escola. Mais tarde cursou o magistério e já começou a lecionar.

Quando ainda morava em Laguna, começou a participar da Congregação Mariana e participava de todas as orações, vigílias, passeios e reuniões com o incentivo do Pároco Local. Nesta época pulsava nela o desejo de ser religiosa, porém os caminhos não estavam bem claros. Tinha receio de não se acostumar com este novo estilo de vida, visto que já tinha seus 24 anos e havia conquistado sua liberdade. Além disso, amava muito sua família, seus alunos, colegas e tudo mais. Sua irmã mais nova, Irmã Elita de Sousa Capanema, resolveu ir para o convento. Falando com o Pároco de Imaruí, ele disse que conhecia um pouco a Congregação das Irmãs Franciscanas de São José, de Angelina/SC. Elogiou muito estas Irmãs e disse que uma conhecida delas já havia ingressado nesta Congregação. Mais tarde veio a saber que era a Irmã Helena Teixeira. Assim sua irmã Elita foi para Angelina.

No dia 15 de julho de 1954, a jovem Maria de Sousa Capanema foi até Angelina fazer uma visita à sua irmã Elita que estava no Aspirantado. Logo se encantou pelo convento e achou tudo muito convidativo: o silêncio do lugar, a Gruta, a alegria que via nas pessoas. Á tarde, sua irmã Elita apresentou-lhe um grupo de noviças; dentre elas Irmã Lutgarda e Ir. Hildefonsa. Ao ver estas jovens noviças tão alegres, começou a sentir uma grande inquietação no coração e se perguntava: será que vou me acostumar com estas paredes tão altas? Mas o estilo de vida falava mais alto e a fascinava.  Lá pelas tantas chegou até onde elas estavam a Irmã Elisa Hoepers que lhe disse: a Irmã Lutgarda está dizendo que você também vem para cá! Diante desta afirmação, seus olhos se abriram! Diz que recorda até hoje o lugar onde este chamado ocorreu. Sua insegurança vocacional desapareceu e passou a sentir uma alegria que não sabia explicar. Naquele mesmo dia regressou para casa e ao chegar escreveu uma carta para a Irmã Elita, que, por sua vez, já havia falado com a Madre Provincial a seu respeito. Restava apenas resolver a questão da remoção como professora para o Colégio Nossa Senhora de Angelina. Tudo ficou devidamente encaminhado e, aos 11 de janeiro de 1955, ingressou no Aspirantado, em Angelina; seguindo-se todas as etapas da formação. No ano seguinte, em 1956 ingressou no noviciado canônico. O segundo ano de noviciado ela o fez em São Bonifácio, lecionando no Grupo Escolar São Tarcísio, dando aulas para o 2º ano primário. Trabalhou ali até final de 1958. Depois foi transferida para Dom Joaquim, Brusque/SC, e trabalhou na Escola – “Escolas Reunidas Professor Carlos Gevaerd”, por 10 anos (1959 a 1969), deu aula para o 4º ano e depois trabalhou na direção da escola. Algumas de nossas Irmãs a tiveram como diretora e foi, sem dúvida, incentivo para sua vocação. Depois disso, retornou para Angelina, onde fez o Curso Normal, graças ao grande incentivo recebido de Irmã Valéria Martins Nazário, pois ela já tinha seus 40 anos de idade. Lá trabalhou de 1969 até 1973, como Secretária da Escola. Depois, foi transferida para Corupá para trabalhar na Escola São José de 1973 até 1976; onde lecionou para o 4º ano e trabalhou na secretaria da escola. Depois disso retornou novamente para Angelina, em 1976, para a secretaria do Colégio Nossa Senhora, onde permaneceu até se aposentar em 1983. Em 1977 teve a graça de fazer o CERNE, no Rio de Janeiro, tendo recebido uma licença especial para isso, do Professor Carlos Blumenberger.

   Aos 30 de agosto de 1983 foi designada para a secretaria da Província, em Barreiros, São José/SC, onde atuou em sucessivos Governos Provinciais, como secretária, até que as forças já não mais lhe permitiam. Mesmo não sendo mais a Secretária Provincial nomeada, até o ano de 2020 se encarregava de passar a limpo as atas das reuniões do Governo Provincial e das Visitas Canônicas às Fraternidades, cuidar dos Arquivos confidenciais, sempre no reverente respeito pelo mistério da vida de cada Irmã. Sempre lhe causava muita dor a saída de uma Irmã do convento.

   Na secretaria do Provincialado fez experiências muito concretas no valor do segredo, do silêncio, do respeito ao sagrado presente em cada ser humano. Sem dúvida, tudo lhe proporcionou uma fé adulta, um grande enriquecimento espiritual e onde a vida lhe pôs numa prensa, aprendeu que só Deus nesta e na outra vida é a única coisa necessária. Num de seus escritos sobre si, escreveu: Se tenho algo de bom é a obra de Deus em mim. Jamais duvido do amor de Deus para comigo, pois sua mão tem me guiado e conduzido em profunda misericórdia até aqui. Que a Misericórdia de Deus me guarde em seu Sagrado Coração!

Em 2008 celebrou 50 anos de Vida Religiosa e assim se expressou: “Já falei anteriormente sobre o meu trabalho na secretaria da Província. Quero me esforçar para não ser uma “tarefeira”. Foi Irmã Anete Sens a primeira Superiora Provincial que me incumbiu de acompanha-la nas Visitas canônicas às Fraternidades. Foi uma oportunidade muito grande de participar da vida das Fraternidades. Diria até que foi um retiro em quatro rodas. Em 17 de outubro de 2005, faleceu em Tubarão minha irmã mais velha, Acioli. Foi um período de muito sofrimento e, como o salmista disse muitas vezes, o Senhor é meu rochedo e minha fortaleza. No mesmo ano, o Jorge, meu irmão adotivo, ficou doente. A mão de Deus tem sido muito pródiga na minha vida. Meu estado de surdez dificulta-me muito, principalmente no relacionamento. As provações da vida vão tolhendo meus passos, deixando-me impertinente e até insensível. Concluído o Governo de Irmã Anete chegou Irmã Maria Aurélia Pauli, uma velha amiga de tempos idos. Coloquei-me à sua disposição para ajudá-la no que fosse possível. A convivência com o governo provincial há quase 25 anos, foi uma verdadeira faculdade. Traz alegrias e também muita apreensão. Tenho angústia profunda ao elaborar os processos de desistência da Vida Religiosa de nossas irmãs. Alegro-me muitas vezes ao saber que a presença da Santíssima Trindade em meu ser é verdadeira e peço que o Senhor sempre me ajude a trilhar os caminhos da fé. Tenho procurado viver o presente, pois, ontem é passado e o amanhã ainda não chegou. Tenho procurado a eterna presença da sabedoria de Deus em toda a criação. Isto me traz grande bênção. Chegando aos 50 anos de Vida Religiosa devo profunda gratidão aos meus pais, à minha família, à Congregação que me acolheu aos 24 anos de idade, às Irmãs que confiaram em mim, aos sacerdotes que, como ministros de Deus, perdoam e consagram. Peço a graça de aguardar o céu como lugar de uma festa”.

Em 30 de maio de 2018 celebrou 60 anos de Vida Consagrada e também deixou seu recadinho: Passei os 10 anos depois do Jubileu de 50 anos, na Fraternidade do Provincialado. A partir de 14 de agosto de 2014, não mais como secretária provincial, mas como auxiliar. Gosto do que ainda consigo fazer com a graça de Deus. Ultimamente tenho procurado levar minha vida e Vocação mais a sério. Também as ocorrências com o falecimento de Irmãs com as quais trabalhamos, vão nos decepando, judiando. Não é diferente com as saídas, afastamentos.

O que dizer a mais desta nossa Irmã Cassiana! Nossa jubilar de 65 anos de vida religiosa consagrada! Quem de nós não tem uma boa lembrança dela, um fato pitoresco para contar, uma frase de incentivo que costumava repetir, suas meias palavras “entre as flores” como ela costumava dizer! Uma Irmã com alma poética e de uma sabedoria e sensibilidade ímpar. Era o arquivo ambulante da Província. Ela viveu saboreando bem o que a vida lhe deu. Amava um docinho. É um ícone imortal para história da Congregação. Sua pena laboriosa fez registros e poesia valiosos para a memória escrita da Província. Sabia guardar o segredo da vida das Irmãs e da Província com grande reverência, como coisa sagrada. Amava estar entre as noviças, quando a mestra se ausentava e dava-lhes bons conselhos. As formandas também amavam a sua doce companhia.

Irmã Cassiana tinha também suas particularidades ao lidar com a morte, não gostava de participar de sepultamentos, nem mesmo de seus familiares mais próximos. Preferia guardar a imagem viva de cada pessoa. Sofria muito com isso, mas buscava superar as ausências causadas pela morte com muita fé.

Os últimos dois anos de sua vida passou praticamente no silêncio, acometida pela fragilidade física, própria da idade. Sentia muitas dores, especialmente na coluna e tinha dificuldade para caminhar. A surdez também a impedia de dialogar com as pessoas, coisa que ela gostava tanto de fazer. Na capela, quando ainda participava das orações comunitárias, gostava de cantar e não media esforços para acompanhar as melodias, do seu jeito. Era reverente diante do mistério da Eucaristia e gostava de estar na presença do Santíssimo, no diálogo silencioso e toda entregue a Ele. Também estava constantemente com o terço na mão, sempre com o coração unido à sua Mãe Santíssima. Nutria particular devoção ao Sagrado Coração de Jesus, por isso amava a cor vermelha. Quem quisesse lhe fazer uma alegria, que lhe oferecesse uma flor vermelha!

Desde 30 de agosto de 1983 até 29 de maio de 2023, Irmã Cassiana viveu no Provincialado. No dia 30 de maio próximo passado, foi levada ao Hospital Bom Jesus para melhor acompanhamento médico. E ontem, exatamente às 15h, hora da Misericórdia, dia 14 de junho, com seus 94 anos e um mês, fez a sua entrega definitiva a Deus e correu para os braços do Esposo Amado para celebrar seu jubileu sempiterno, inserida no Coração Sagrado de Jesus. Muito obrigada, Irmã Cassiana, pela sua vida doada a Deus e aos irmãos e irmãs, especialmente na Educação e nos trabalhos de secretaria. Obrigada pelo seu testemunho de generosidade, sua alegria, entusiasmo, amor à oração, seu silêncio fecundo, seu jeito fraterno de ajudar, suas brincadeiras e bom humor. Lá do céu, de junto de Madre Alphonsa, de sua irmã Elita, demais coirmãs, familiares e amigos, interceda por todos nós, particularmente por suas irmãs: Cecília e Carmem. Peça a Deus que continue chamando muitas jovens para o serviço da Misericórdia, em nossa Congregação. Contamos com a sua poderosa intercessão para que, também nós, sejamos fieis cumpridoras da parte que nos cabe, na construção do Reino de Deus.

Descanse na Glória e na Paz do seu Senhor Ressuscitado!

Angelina, 15 de junho de 2023.