MENSAGEM FINAL DA 27ª DA AGE DA CRB NACIONAL
Às Consagradas e Consagrados do Brasil!
Saudamos com reverência a Vida Religiosa Consagrada do Brasil, na paz inquieta e na ternura comprometida do Deus da História.
A 27ª Assembleia Geral Eletiva da CRB foi mais que um evento – foi uma travessia profética. Um chamado urgente à escuta radical do espírito e da realidade ferida. Sob o dinamismo da Trindade e com Maria, Mãe dos Pobres e das periferias, como companheira de caminho, nos debruçamos sobre os clamores do mundo e da Igreja.
Com o tema “Vida Religiosa Consagrada: Sentinela de Esperança em tempos de travessia”, ousamos atravessar desertos e labirintos. A
esperança, neste tempo, não é conforto. É resistência ativa. É recusa da indiferença. É fidelidade ao Reino em meio ao colapso ecológico, ao genocídio da juventude negra, à exclusão sistemática dos pobres e ao clericalismo que ainda oprime a profecia.
Fomos chamados a uma escuta encarnada, não apenas de discursos,mas dos gritos silenciados dos povos indígenas, das mulheres excluídas nos espaços sociais e eclesiais, das comunidades destruídas por uma economia predadora, das vítimas de abusos – inclusive dentro de nossas próprias estruturas.
Em cada nota da sinfonia orquestrada nestes dias, ressoava o clamor por conversão: metanoia institucional, kenosis real, koinonia sinodal, martyria cotidiana. A Vida Religiosa não pode contentar-se com repetições estéticas e discursos simbólicos. Ou nos tornamos fermento de transformação radical ou nos condenamos à irrelevância.
A travessia é tempo de dor e parto. Vivemos o que místicos e profetas chamariam de “tesarac”: um rasgo no tempo que exige da Vida Religiosa a coragem de romper paradigmas caducos e instituições autorreferenciais. O novo não nascerá sem luta, nem sem ruptura.
É hora de nos levantarmos como Maria Madalena, a primeira apóstola do Ressuscitado, que não se calou diante da morte nem da incredulidade, mas anunciou a Nova Aurora. É tempo de nos colocarmos como Nicodemos, que saiu das sombras da ambiguidade para se deixar incendiar pela luz da verdade. É tempo de deixarmo-nos recriar pelo Espírito, que sopra como fogo que destrói falsas seguranças e faz nascer do Alto.
A presença da Ir. Simona Brambilla nos recordou: ou somos sentinelas de esperança ou cúmplices do atraso. Precisamos estar nas encruzilhadas, onde a vida sangra. Urge uma Vida Religiosa que incomoda, que denuncia, que se deixa ferir pelas dores dos outros especialmente dos invisibilizados.
Agradecemos a Deus pela caminhada feita até aqui, com Ir. Eliane Cordeiro de Souza e Diretoria. Acolhemos com confiança a Ir. Maria do Disterro Rocha Santos e Diretoria, para trilhar conosco o caminho neste novo triênio.
Assumimos as prioridades definidas nesta Assembleia, não como metas administrativas, mas como opções evangélicas.
Somos chamados a ser fagulhas de Pentecostes, traduzindo o Evangelho nas línguas da justiça, da equidade, da inclusão e da ternura combativa.
Que Jesus, o Mestre de Nazaré, o Filho de Deus encarnado, nos faça discípulas e discípulos missionários.
Que a Divina Ruah nos desinstale, nos incomode e nos arraste para onde a vida clama por libertação.
Que Maria, Mãe Aparecida, a consagrada por excelência, nos acompanhe na travessia.
Sigamos juntos, com o Evangelho nas mãos, os pés no chão da história, os olhos no Reino e o coração em fogo.
A CRB somos todos nós, e somos todos sentinelas de esperança!