Natal do Senhor!

23/12/2021

A Palavra fez-se carne e habitou entre nós”. – Jo 1,1-18 – Quando o mistério é grande demais, a palavra humana não alcança sequer “balbuciar” o seu sentido. Diante do mistério recorre-se à linguagem do silêncio, da arte, da poesia, do símbolo, ou mergulha-se na contemplação. O mistério do natal é um destes grandiosos mistérios que, infelizmente, perdeu seu sentido originário e se transformou em comércio, barulho, luzes e cores. O “consumir” tomou o lugar do “contemplar”, os ruídos ferem a delicadeza do silêncio, a arte e a poesia se transformaram em comércio de roupa nova, de arranjos coloridos, tudo perpassado por uma ansiedade pelo mais.

O evangelho da missa do dia de natal é um hino que confessa a fé no mistério da Encarnação. Ao usar a expressão “no princípio”, nos vem à mente o relato da criação (cf. Gn 1,1). A obra de Jesus está em relação com a obra criadora de Deus. Seu nascimento marca a definitiva intervenção criadora de Deus no mundo. A ação de Jesus coroa a obra criadora iniciada por Deus “no princípio”.

O hino começa por apresentar a “Palavra”,  uma realidade anterior ao céu e à terra. Foi pela Palavra que tudo passou a existir.  A “Palavra” não só estava junto de Deus e colaborava com Deus, mas “era Deus”. Veio ao encontro da humanidade, fez-se “carne” (pessoa), e montou “sua tenda no meio de nós”.

A transformação da “Palavra” em “carne”, em menino do presépio de Belém, é a espantosa aventura  de um Deus que ama e que, por amor, aceita revestir-se da nossa fragilidade para nos dar vida em plenitude. Neste dia, somos convidados a contemplar, numa atitude de serena adoração, esse incrível passo de Deus, expressão extrema de um amor sem limites.

Diante deste inefável mistério, precisamos nos questionar: o presépio que contemplamos no natal é o que? Um quadro bonito, cheio de arte e ternura, ou é uma convocação para mergulharmos na força da  “Palavra” que gera um mundo novo, de vida plena, de fraternidade e justiça. A encarnação  da “Palavra”,  que se faz menino deitado em manjedoura, deve nos levar a uma ruptura com os sistemas geradores de morte, de corrupção, de violência, de injustiças. Nos levar também a   superar o egocentrismo, a autorreferencialidade e busca de grandeza pessoal. Então será natal! O nascendo de um novo existir, de um existir segundo Deus. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ