Saboreando a Palavra
“Deus visitou o seu povo!” Lc 7,11-17. A “compaixão” e a “visita de Deus” são dois temas teológicos que se destacam no Evangelho de Lucas e os dois estão presentes na narrativa deste 10º domingo do Tempo Comum. Neste dia 03 de junho celebramos a festa do Sagrado Coração de Jesus, este coração que visita o povo na sua imensa compaixão. A narrativa da ressurreição do filho da viúva de Naim só se encontra no Evangelho de Lucas. Em seu ministério pela Galileia, Jesus se aproxima de uma pequena aldeia chamada Naim, próxima de Nazaré, onde se depara com uma cena comovente. Com muita emoção, Lucas relata dois cortejos, duas procissões que se encontram na entrada da aldeia de Naim. De um lado, o cortejo de morte, dos sem esperança, que sai da cidade: uma grande multidão acompanha a mãe viúva que leva seu filho único para ser sepultado. Naquele tempo, os cadáveres eram considerados impuros e, por isso, eram enterrados fora dos muros das cidades judaicas. Do outro lado, o cortejo da vida que entra na cidade: Jesus é acompanhado de seus discípulos e também de uma multidão. As lágrimas de uma mãe viúva comovem a Jesus. Naquele tempo, a situação social de uma mulher era muito difícil. Quando viúva e sem filhos, era quase impossível sobreviver. Falecido o marido, ela ficava sob a proteção dos filhos, especialmente homens e não tendo estes, encontrava-se à mercê da própria sorte. O evangelho nos diz que o jovem falecido era filho único desta viúva (Lc 7,12). Então vai depender da boa vontade dos seus vizinhos ou familiares, caso se disponham a ajudar. Estava sozinha no mundo. Sem nenhuma palavra, as lágrimas falam… Seu lamento profundo chega ao coração misericordioso de Jesus que vê e tem compaixão. Olha, contempla a situação de sofrimento, presta atenção na dor na dor da mãe viúva, desamparada, que acaba de perder seu único filho. O olhar cheio de ternura de Jesus o faz sentir-se tocado pela situação. Ele sente compaixão, sofre, assume a dor desta mãe de Naim. Sem nenhum pedido da mãe, Jesus toma a iniciativa. É a compaixão que entra em ação. Jesus se dirige à mulher que chorava e lhe diz apenas duas palavras de conforto: “Não chores!” Aproxima-se e toca o esquife (caixão) e “os que o levavam pararam” (Lc 7,14). Suas palavras e gestos restituem a vida. Jesus se envolve com os dramas humanos e não tem receio de tocar em algo impuro. Transgride o tabu religioso sobre a impureza legal de um cadáver (cf. Nm 19,11.16). Para Jesus, a vida está acima de todo legalismo. Com suas palavras, ordena ao jovem que se levante. “Levantar” é um dos verbos em grego para “ressuscitar”. Lucas acrescenta que o que estivera morto passou a falar. Restitui a vida e a palavra ao jovem. Num gesto de ternura, Jesus entregou à mãe seu precioso filho. Não só chama o filho à vida, como também restitui a vida e a situação social desta mulher viúva. E a reação da multidão foi de espanto e de admiração: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus visitou seu povo” (Lc 7,16). É o próprio Deus que visita seu povo. E nós, hoje, que mais uma vez ouvimos esta narração de Lucas, sentimo-nos convocadas/os a “ter em nós os mesmos sentimentos que havia em Jesus” (Fl 2,5). E diante do sofrimento humano estampado nos rostos das pessoas e explorado nas páginas dos jornais e nas imagens da TV, não nos deixar anestesiar, mas nos comover e agir, de tal forma que nosso testemunho leve as multidões mais uma vez a bradarem: “Deus visitou o seu povo”. Pois muitas vezes nos parece que multidões de jovens morrem, centenas de mães choram e não há quem toque nos esquifes e faça este cortejo de morte parar. Que profetas apareçam e bradem: “Jovem, eu te ordeno: levanta-te”! e as multidões percebam que “Deus visitou o seu povo”. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ.
No comments