Saboreando a Palavra

28/08/2018

“Basta de tanta insensatez”! – Lc 12,13-21 – O Evangelho do 18º domingo do TC, narrado pelo evangelista Lucas, é de muita atualidade e de extrema urgência a ser compreendido e assumido por todos nós, pelo menos da Igreja. Certamente Jesus conheceu uma grave crise socioeconômica na Galileia. Segundo historiadores, enquanto Séforis e Tiberíades viviam na riqueza, nas aldeias aumentava a fome e a miséria. Os camponeses ficavam sem terras e sem comida, e os grandes proprietários construíam celeiros cada vez mais bonitos e fortificados. A narrativa de hoje inicia com um desconhecido pedindo a Jesus que resolva um problema de herança, coisa típica de tribunal. Jesus se recusa a atender, pois percebe não se tratar de desejo de justiça, mas revela cobiça, ganância… Denuncia esta situação de ganância com uma pequena parábola. Um homem rico viu-se surpreendido com uma abundante colheita que superou todas as suas expectativas. “O que farei”? Não pensa em partilhar, não pensa nos famintos, não pensa em ninguém a não ser em si mesmo: vou demolir meus celeiros e vou construir outros maiores e assim vou viver em festa até o fim de meus dias. De forma inesperada Deus intervém. Aquele rico morrerá nesta noite sem desfrutar de seus bens. Por isto Jesus o chama de “insensato”. Para os pobres, não há dúvida de que a abundante colheita é bênção divina para “saciar de bens os famintos”. A parábola de Jesus desmascara uma triste realidade de ontem e de hoje. O rico em si não é um monstro: ele faz o que se costuma fazer, age segundo a lógica do capital. Os que possuem pensam em seu próprio bem-estar. Não se dão conta de que vivem fechados em si mesmos, prisioneiros de uma lógica que desumaniza, esvaziando-se de toda a dignidade. Jesus nos dá uma catequese radical: o dinheiro, os bens não são a fonte da verdadeira vida. A cobiça dos bens (o desejo insaciável de ter) não conduz à vida plena, não responde às aspirações mais profundas da pessoa. A ganância pelos bens terrenos é a causa de muitos males… Olhemos para a situação atual do Brasil e do mundo. Afirma-se que a crise econômica que estamos sofrendo é uma “crise de ambição”: os ricos querem viver acima de suas possibilidades, acumulando sem limites, esquecendo os pobres que afundam na miséria. O ensinamento de Jesus toca em cheio também os cristãos comuns encantados com o capitalismo neoliberal e a visão da vida a partir do lucro e do acúmulo de bens. Acúmulo de roupas, calçados, alimentos, carros, etc. Hoje em dia também é muito comum pôr tudo no seguro… Há seguro de vida, de carros, contra roubos, incêndios, acidentes pessoais, etc. Mas a vida eterna não pode ser assegurada com as riquezas desse mundo… e sim com os tesouros reconhecidos por Deus. “Basta de tanta insensatez”! – É o que Jesus continua a nos dizer. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ

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