Saboreando a Palavra
CUIDADO E ATENÇÃO – Lc 12,32-58 – Lendo os quatro Evangelhos, observa-se que em Lucas há um radicalismo maior em relação à riqueza e à pobreza. Só há salvação para os ricos quando estes partilham, como no caso de Zaqueu (cf Lc 19,1s). Quem não partilha é condenado (cf Lc 16,19s) e “ai de vós os ricos que já tem a própria consolação” (Pc 6,24). Estes e outros textos exclusivos de Lucas revelam que no 3º Evangelho a questão da riqueza e da pobreza é tratada com mais rigor, o que certamente retrata a realidade das comunidades lucanas, constituídas de pessoas com mais posses e outras com menos ou até muito pobres. A catequese deste domingo é constituída de três parábolas. O texto continua o ”caminho de Jerusalém”…Os discípulos estavam com MEDO… eram poucos e fracos, num mundo hostil. O mal parece vitorioso e se sentem sem condições de se opor. Jesus lhes garante: O Reino de Deus virá com certeza, porque não é obra do homem, mas é um dom do Pai. ”Não temais, pequeno Rebanho, porque é do agrado do Pai dar a vós o Reino”. E os convida a uma VIGILÂNCIA permanente (na ”noite”). Exemplifica essa verdade com TRÊS PARÁBOLAS: a) Os Servos que esperam o Senhor voltar do casamento; b) O Ladrão que chega de surpresa; c) O Administrador fiel. E conclui, respondendo à pergunta de Pedro: ”Quem deve vigiar?”. A vigilância é uma atitude bíblica, desde a noite da Libertação do Egito. A vigilância é também a atitude do cristão que espera a volta do seu Senhor que, encontrando seus servos a vigiar, os fará sentar à mesa e os servirá. Vigiar é uma atividade de cuidado e atenção. Observemos ainda que o texto está num contexto em que Jesus orienta os seus a compartilhar os recursos humanos e econômicos. Pede aos discípulos que tenham os ”rins cingidos” e as “lâmpadas acesas”. Eles devem estar preparados para serem “em saída”: preparados para sair de si mesmos, desapegar-se de seu lugar comum e mover-se em direção ao outro e ao mundo. Há uma tradição bíblica que identifica os rins como o lugar dos sentimentos, do afeto, por onde somos ”afetados” pelo mundo externo e pela experiência íntima de Deus. É o lugar da nossa consciência ética e estética. É o lugar das nossas decisões. Temos que decidir por onde ir, a quem escutar. Cingir os rins é estar preparadas/os, para movimentar nosso corpo em defesa dos valores do Reino. É requisito e expressão da fé: movimento pela vida e plenitude. Ficar com a “lâmpada acesa”: iluminar a escuridão do mundo. Somos chamadas/os para estar como luz, como indicador de caminho, como facilitador de processos e como iluminador da escuridão diante e dentro do mundo. O encontro com Jesus e a convivência com ele deve nos encher de energia. Com Jesus temos condições de atuar no cotidiano não nos deixando ”conformar” pelos poderes manipuladores deste mundo em que vivemos. Transformados/as, caminhamos pela fé para outro mundo possível e podemos cultivar valores em favor da vida e da libertação. A lâmpada acesa não deve ser usada para cegar e impedir que coisas novas sejam descobertas. Os rins cingidos são para redescobrir nossa vocação profética para a indignação e para a solidariedade. Clamar para que a vontade de Deus seja feita assim na terra como no céu, para que a justiça e a misericórdia sejam o prato do dia e para que o pão nosso cotidiano seja realidade para todos. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ
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