Saboreando a Palavra
“Os discípulos se aproximaram de Jesus”- Mt 5,1-12 – Domingo de todos os Santos – A festa de todos os Santos, anteriormente celebrada no dia 1º de novembro, vem a nós neste primeiro domingo de novembro. O evangelho da Liturgia deste dia é também muito conhecido, porém pode também ser bem “desconhecido” ou lido de forma teórica ou superficial. Sem pretender dizer muita coisa nova, podemos focar nossa atenção em alguns elementos nem sempre tão evidenciados. Mt 5,1-12 serve como introdução e como resumo do Sermão da Montanha, que vai de Mt 5 a 7. Estes doze versículos apresentam um retrato das qualidades do verdadeiro discípulo/a, daquele/a que, no seguimento de Jesus, procura viver os valores do Reino de Deus. Situando o texto no contexto literário, podemos ver que em Mt 4,23-25, texto logo anterior ao nosso texto de hoje, uma multidão de estropiados, de doentes, de “descartáveis” diríamos hoje, procura Jesus. Não são os bem falados, os religiosos, as pessoas de bem, os puros, até mesmo os discípulos que estão buscando Jesus, mas as “multidões sem rumo”, sem quem olhe por eles. Então Jesus sobe a montanha, vê as multidões. De cima da montanha, do alto se alarga a visão, o horizonte fica maior para quem quer ver. Os discípulos se aproximam dele e Jesus começa a falar, não às multidões, mas aos discípulos. Certamente trata-se de um ensinamento dirigido aos discípulos, pois são estes que precisam mudar sua maneira de ver as multidões famintas, doentes, impuras, excluídas. Isto se pode perceber em diversas outras passagens dos Evangelhos, onde eles se mostram preconceituosos, querem descartar as multidões, mandar embora, são insensíveis, mandam calar os que gritam. E basta uma leitura superficial das bem-aventuranças para ver que a proposta de Jesus está na contramão da mentalidade da sociedade vigente – tanto a do tempo de Jesus, como na de hoje. O texto deixa claro que o seguimento de Jesus exige uma mudança radical na maneira de pensar e viver. O Reino de Deus pertence aos que os reinos deste mundo excluem, descartam, desconsideram. Pertence aos pobres, aos aflitos, aos que choram, aos perseguidos, aos que pautam sua vida pela misericórdia, pela paz, pela mansidão, pela justiça, valores que os reinos deste mundo chegam até a ridicularizar. Jesus deixa claro as consequências de assumir esse projeto de vida: a perseguição! Um sistema, uma mentalidade baseada em valores anti-evangélicos não suporta quem pensa de outra forma e muito menos quem a contesta e questiona. Qualquer igreja cristã hoje, ou até qualquer pessoa que é bem aceita e elogiada pelo sistema político econômico atual, precisa ser questionada sobre a sua fidelidade ao Evangelho, sobre sua adesão ao espirito das bem-aventuranças. Por meio de gestos e de palavras, Igrejas e cada qual precisamos demonstrar às pessoas e grupos rejeitados pelo sistema deste mundo, a misericórdia e a compaixão de nosso Pai. Esta é certamente a santidade que Deus espera de seus discípulos que hoje se aproximam dele. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ
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