Saboreando a Palavra

28/08/2018

”Jesus criança, o rosto humano da compaixão de Deus” – Lc 2,1-14 – O texto da liturgia da noite de Natal é a narrativa do nascimento de Jesus. Inicia informando a difícil realidade de seu tempo (2,1-2). O povo judeu, como tantas outras nações, está sob a dominação do império colonialista de Roma. O nome do imperador da ocasião era César Augusto, que governou em Roma do ano 31 a.C. até o ano 14 d.C. Seu governo durou nada menos que 45 anos. A comunidade de Lucas conhecia muita bem como os imperadores oprimiam as nações subjugadas. Quirino, o governador romano na Síria, foi o responsável para organizar o recenseamento na região. Sabemos que os principais objetivos do censo tinham em vista a opressão política e econômica. Tinha como meta saber o número de homens aptos a serem eventualmente recrutados para a guerra, bem como saber a quantidade de pessoas sobre as quais cobrar impostos. Os tributos cobrados por Roma passavam de 50% do rendimento das famílias dos povos colonizados. Dessa forma, Roma, além de ser o centro da dominação imperialista, tornava-se também um grande centro de acumulação de riquezas. Ao informar o nascimento do menino, o texto afirma que “Maria deitou seu filho numa manjedoura”… Diferentemente dos poderosos, cujo poder está calcado nas armas do exército e nas riquezas acumuladas no centro do império, Jesus vem da periferia. Ele não só não vem de Roma, capital do império, ou de Jerusalém, capital dos judeus, mas vem de Belém, uma aldeia da periferia da Judeia. Jesus vem das periferias proféticas, conforme já predissera Miquéias e tem a mesa da partilha como centralidade de seu projeto. Se Belém já é uma aldeia marginal, Jesus nasce da exclusão ainda maior, nasce numa estrebaria, num estábulo nos arredores de Belém, “porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7). Ali, seu primeiro berço foi uma manjedoura, um cocho onde os animais comem o seu alimento. Também não é por acaso que o primeiro berço de Jesus é um cocho onde se coloca a comida dos animais, o seu “pão cotidiano”. Segundo o relato, os pais de Jesus eram “forasteiros” no lugar e não tinham onde pernoitar. É a partir dessa realidade extrema de marginalidade e de fragilidade, de abandono e de solidão de uma mãe dando à luz a sua criança, que Jesus se revela como rosto da Misericórdia do Pai. Desta realidade vem a força do Deus libertador que quer incluir todas as pessoas de boa vontade em seu reinado de justiça e de paz. Deus se revela na fragilidade e na ternura de uma criança. Jesus criança é o rosto humano da ternura de Deus e, ao mesmo tempo, o rosto divino do ser humano. Jesus, desde seu nascimento, é “pão partilhado”. Do início ao fim de sua vida, Jesus partilha o pão aos que dele necessitam. As narrativas de partilha do pão levam a identificar Jesus como o “partilhador de pão”. Como nos alerta o Papa Francisco, Jesus não gastou sua vida preocupado com doutrinas ou leis, mas em ver se as pessoas tinham o que comer, beber, vestir. Jesus é de Belém, da “casa do pão”. É este o grande anúncio da noite de Natal proclamado nos campos de Belém: “Eu vos anuncio uma grande alegria: nasceu-vos hoje um Salvador…” Uma proclamação feita aos pastores, pessoas analfabetas, pobres e que eram marginalizadas. O mensageiro de Deus não anuncia essa boa nova a César Augusto em Roma, nem ao governador Quirino na Síria, nem em Jerusalém ou mesmo no centro de Belém. O anúncio foi feito na noite, aos pastores que estavam ao relento vigiando os rebanhos. Uma Santa Noite de Natal, na “casa do Pão”! Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ

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