Saboreando a Palavra

28/08/2018

Um novo estilo de vida – Mt 6,24-34 – Continuamos acompanhando Jesus no “sermão do monte” e neste domingo, em que todo o Brasil já está em ritmo de Carnaval, Jesus vai ao ponto central da nossa condição humana: “deixar-se levar pela cobiça e servir à riqueza, ou deixar-se conduzir pelo dinamismo do amor e servir a Deus”. São dois modelos econômicos, duas formas de organizar a sociedade. Mas façamos um pequeno intervalo e acompanhemos a alegria do povo nas ruas. Apesar do Carnaval ter se tornado o momento de uso exagerado de bebidas e de drogas, que cria um circulo vicioso de violência urbana, que explode em alguns fenômenos de massa não bem canalizados, Carnaval é festa. E toda festa, mesmo a mais aparentemente mundana, reúne pessoas em uma expressão de alegria. Por isso, tem uma dimensão nobre e mesmo espiritual. O que caracteriza a festa é a liberdade de brincar, o direito de subverter a rotina e de expressar alegria e comunhão. Este é um ingrediente evangélico do Carnaval. Mas voltemos ao Evangelho (Mt 6,24-34). Jesus trata de duas propostas de vida na comunidade humana: uma que tem como base o poder da riqueza, que gera angústia, fome, preocupações e injustiças e outra que prioriza uma estrutura social que privilegia a justiça do reinado de Deus, gera dignidade, alegria e vida cidadã. Dois são os caminhos fundamentais. Ou servimos aos tesouros da terra, ou nos colocamos a serviço dos tesouros dos céus. Ser rico para Deus é partilhar, é ser solidário. Essa é a prática dos servos de Deus, prontos para viver na simplicidade, no desapego e na sobriedade. E o eixo dessa prática é a vivência da justiça do reinado de Deus, isto é, a vontade de Deus. É interessante perceber que o texto repete seis vezes o verbo preocupar (tornar-se apreensivo, ter preocupação, afanar-se, estressar-se). De um lado, as pessoas que acumulam bens têm a preocupação de proteger-se contra carunchos, traças ou ladrões. Vivem preocupadas, encasteladas em suas fortalezas. Jesus sabe do significado do pão, da água e das vestimentas na vida do povo. Sabe também que o povo anda preocupado com o que comer, beber e se vestir. E igualmente tem consciência de que a questão vai além da luta pelas necessidades imediatas. Por isso, de um lado, convida a seguir o exemplo das aves, que rejeitam acumular em celeiros, e dos lírios do campo, que recusam o luxo dos poderosos, como Salomão. De outro, pede que confiemos no Pai celeste, pois “ele sabe que tendes necessidade de todas estas coisas” (Mt 6,32).Confiar em Deus e entregar-se à sua providência é uma atitude fundamental. Mas não é suficiente. Jesus vai mais longe. Nos convoca com um imperativo: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33). É um projeto novo, com novas estruturas, mais justas, embora simples, sem roupas luxuosas, nem celeiros para acumular. “Buscar o Reino de Deus e a sua justiça” é viver como o próprio Deus, é imitar Deus. É viver em conformidade com sua vontade. Portanto, “sede íntegros como vosso Pai celeste é íntegro” (Mt 5,48). Em outras palavras, ”sede amorosos como vosso Pai celeste é amoroso”. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ