Saboreando a Palavra

28/08/2018

“Se és o Filho de Deus” – Mt 4,1-11 – Neste 1º Domingo da quaresma a Liturgia nos traz o texto que trata das tentações de Jesus. Já estamos bem acostumados a ouvir esta narrativa, porém muitas perguntas ainda persistem: sendo Jesus o Filho de Deus, poderia ser tentado pelo diabo? A tentação não é coisa nossa, de criaturas limitadas e pecadoras? O texto de Mateus, escrito numa linguagem cheia de símbolos, busca narrar experiências que são bem humanas e muito próximas de nós. Iniciamos o tempo fecundo da Quaresma, tempo no qual somos convidados/as, com muita insistência, à conversão, ou seja, a bem definir nossa opção de vida para Deus. O Evangelho de Mt 4,1-11 é uma narrativa teológica de muita profundidade. O diabo se aproxima de Jesus, logo após seu Batismo, onde o Pai havia declarado que Jesus era seu Filho amado (cf.3,16-17). Começa dizendo: “Se és Filho de Deus”! Parece querer induzir Jesus a uma dúvida: “Se és! Fazer Jesus duvidar de ser o Filho amado do Pai seria a brecha para desviar de sua missão. Tenhamos bem presente que Jesus é tentado logo depois do Batismo e antes de iniciar seu ministério público. É momento de decisão de vida. O relato é bem surpreendente. É o Espírito que conduz Jesus para o deserto. No “deserto” pode-se escutar a voz de Deus, mas também se pode sentir atração de forças que desviam do caminho de Deus. O diabo tenta Jesus com uma linguagem tirada da Sagrada Escritura, o que torna a tentação ainda mais sedutora, pois vem revestida de linguagem religiosa. Até no interior da religião pode-se esconder a tentação de distanciar-nos de Deus. As tentações de Jesus, em síntese, tem a ver com a questão do poder. Transformar pedras em pão, lançar-se do pináculo do templo, possuir os reinos do mundo são formas de poder e não de serviço. Por qual caminho Jesus vai revelar o rosto do Pai e anunciar o Reino de Deus? Como Messias Rei poderoso ou como Messias Servo humilde e crucificado? Na primeira tentação, no deserto, o diabo sugere a Jesus que manifeste seu poder transformando pedras em pão, resolvendo assim o problema da fome. Um poder exercido sob as ordens do diabo e não do Pai. A segunda tentação, na cidade Santa, centro do poder religioso, político, econômico, o diabo se aproxima de Jesus e sugere precipitar-se, pois haverá anjos para protege-lo. Uma questão de poder sobre o próprio Deus que deveria vir em socorro de seu Filho. Na terceira tentação, o desejo de poder se explicita ainda mais. “O diabo mostrou a Jesus todos os impérios/reinos do mundo e a sua glória”. “Tudo isto te darei”. O diabo afirma que o mundo, os reinos, os impérios são dele. O preço de Jesus aceitar este império é “se prostrar e adorar o diabo”. ”Adorar” é ser leal, algo que pertence somente a Deus. Jesus expulsa o diabo, agora chamado de satanás. “Vai-te satanás”! – e confessa sua fidelidade a Deus. Ele é mesmo o Filho de Deus, inicia sua missão de revelar o rosto do Pai e anunciar o reino de Deus que, nesta quaresma, no Brasil, tem um nome bem concreto: CULTIVAR E GUARDAR A CRIAÇÃO (Gn 2,15). Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ