Saboreando a Palavra

28/08/2018

Um encontro diferente – Jo 4,1-42 – O Evangelho do 3º Domingo da quaresma é de uma riqueza inesgotável. É realmente um texto “fonte”, um texto que jorra sempre, tal qual a “fonte de Jacó”, na qual se dá o encontro da mulher da Samaria com Jesus. Este encontro foi um encontro diferente e entre pessoas “diferentes”. Diferentes no gênero, na cultura, na geografia, na religião. É um encontro entre um homem e uma mulher, entre um judeu e uma samaritana. Não se trata de um encontro de Jesus com os discípulos, nem um encontro entre judeus. Embora tão diferentes, experimentaram o “encontro” e o “diálogo”, a “partilha” e a “acolhida”. Os dois tinham sede, os dois também tinham água a oferecer. Olhemos mais de perto o cenário em que se dá este “encontro diferente”. O espaço em que a mulher samaritana e Jesus estabeleceram o diálogo é o poço de Jacó, em Siquém, ao pé do monte Garizim. Era o lugar em que todo o povoado buscava água, espaço de encontro, especialmente das mulheres que ali buscavam água para as necessidades domésticas e também de seus rebanhos. Era lugar de encontrar o seu amor. Foi junto a poços que nasceu o amor entre Rebeca e Isaac (cf.Gn 24), entre Jacó e Raquel (cf. Gn 29,1-20) e entre Séfora e Moisés (cf. Ex 2,11-22). Neste encontro diferente junto ao poço de Jacó, a estrangeira, a diferente, não foi a mulher samaritana, pois ali era o “seu espaço”. Foi Jesus o estranho, o estrangeiro. Ele não era da Samaria. Porém ambos tinham algo em comum: ambos tinham sede e ambos tinham água a oferecer. Estabeleceu-se uma troca. Houve abertura para acolher e generosidade para oferecer. Os dois superaram preconceitos, pois “samaritanos e judeus não se davam” (cf. Eclo 50,25-26) e “não convinha que judeus passassem pela Samaria’ (cf. Lc 9,51-56). “Homens e mulheres não conversavam em público” (Jo 4,27). Os dois foram corajosos e ousados ao desconstruir paradigmas, ao romper muros que dividiam. Jesus iniciou o diálogo a partir de sua sede: “Dá-me de beber”. Ele precisava da samaritana para saciar a sua sede e partiu da água que mata a sede do corpo. Indicou, porém, outra água, revelou outra sede pela qual a mulher estava sedenta. Jesus propôs água de uma fonte que gera vida plena, vida em abundância. Depois de conversar sobre as sedes e as águas, passaram para outro assunto. Agora o tema é a religião cujo ponto de partida é “chamar o marido”. A referência aos maridos recorda as divindades trazidas pelos cinco povos que os assírios deportaram para a Samaria em torno de 720 a.C. (2Rs 17,24.29-31). Eram divindades impostas de fora e que faziam parte de um projeto imperialista de opressão. Eram divindades que não geravam liberdade. Eram “senhores” que não traziam vida para os povos subjugados. A sexta divindade ou o sexto “marido” provavelmente é uma referência à imposição violenta do culto de Jerusalém sobre os samaritanos, promovida por João Hircano, rei e sumo sacerdote do templo, em torno do ano 128 a.C. O diálogo vai fluindo e ambos vão se revelando. A samaritana reconheceu Jesus como um profeta e como o messias esperado. E Jesus se revela plenamente a uma mulher da Samaria: “O Messias sou eu que estou falando contigo”. Uma ruptura ocorre na narrativa. Chegam os discípulos que nada compreendem. Estavam totalmente ausentes deste grande encontro. Estavam curiosamente ocupados em afazeres tradicionalmente atribuídos às mulheres… Uma absoluta novidade no agir de Jesus (cf Lc 10,38-42). Jesus se revela a uma mulher estrangeira e ela tornou-se missionária, anunciando quem lhe oferecera água da fonte da vida. Jesus também ficou diferente. Antes, achava que a salvação vinha dos judeus. A samaritana ajudou-o a abrir os seus olhos. E Jesus sintetizou a conversa, reconhecendo que o verdadeiro culto a Deus é em Espírito e em Verdade, independente de lugar, de rito e de cultura. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ.