Saboreando a Palavra

28/08/2018

“Só sei que eu era cego e agora vejo” – Jo 9,1-41 – O relato do Evangelho do 4º domingo da Quaresma deste ano de 2017 é de uma beleza e simplicidade emocionantes, mas que esconde um conflito intrigante. É a narrativa do assim chamado “cego de nascença”, um relato inesquecível, cheio de simbolismos tão próprios do Evangelho de João. É o 6º sinal de Jesus relatado pelo evangelista João. Cego desde o nascimento é alguém que nunca viu a luz do dia, nunca viu o rosto de sua mãe e de seu pai, não viu os aposentos de sua casa, não viu o rosto de outra pessoa, a cor de nenhuma flor, de nenhum pássaro, nunca viu nada. Alguém que, certamente vivia na exclusão, na mendicância, na “não existência”. Carregava sobre a maldição divina, pois nascera cego. ”Quem pecou, ele ou seus pais…”? Pelo relato, até seus pais não o tinham em grande consideração, pois não o defendem na hora do conflito com os sabidos da Lei. Não sabemos seu nome nem sua idade. Sabemos que ficava “sentado mendigando”. Um dia Jesus passa pela sua vida. Está tão aviltado, que não se importa que Jesus passe lama em seus olhos. Deve ter sofrido tantas humilhações que, passar lama com saliva nos olhos e lavar-se na piscina de Siloé, poderia apenas ser mais um dos escárnios que mendigos em tais condições costumam sofrer. Mas confia na palavra deste que chega a ele com ternura e autoridade. Foi, lavou-se e voltou enxergando. O encontro com Jesus vai mudar sua vida. Os vizinhos e os que costumavam ver o cego, começam a ver a mudança. É ele mesmo, mas parece outro. “sou eu mesmo” insiste ele. Surgem discussões. Chamam os pais, exige-se provas, aumenta a tensão. O que fora cego não se altera, mantém a sua extrema simplicidade. “Um homem que se chama Jesus me curou” – “só sei que eu era cego e agora vejo” – “sei que Ele é um profeta”. Os conhecedores da Lei, os donos da Salvação, exigem dele clareza de doutrina, conhecimento das Escrituras, preparo teológico para justificar suas afirmações. Mas ele tem certeza daquilo que afirma. Passou pela experiência da cegueira e agora está vendo, e fica surpreso que os que sempre viram não estejam vendo o óbvio. Na sua simplicidade, continua proclamando que era cego e agora está enxergando. Os fariseus tem conhecimentos, mas o cego tem experiência. A experiência gera a evidência. Acaba ficando sozinho e é expulso da sinagoga. Jesus o encontra e então vem a confissão de fé: “Crês no Filho no Filho do Homem”? – “E quem é Ele Senhor, pra que eu creia nEle? – E Jesus lhe disse: “Tu o estás VENDO. Sou eu que estou falando contigo: “CREIO, SENHOR”! É a plena visão, fruto da fé. E a narrativa prossegue com a discussão sobre a cegueira dos que se acham com a plenitude da visão, em oposição à plenitude da visão de quem segue a Luz do mundo que é Jesus. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ