Saboreando a Palavra
”Bendito o que vem em nome do Senhor” – Domingo de Ramos – Celebra-se neste domingo a entrada “triunfal” de Jesus em Jerusalém, narrada pelo evangelista Mateus (Mt 21,1-11). Em tempos de “triunfo” de tudo o que revela poder, é oportuno resgatar o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém. Trata-se de uma releitura de Zacarias 9,9-10, que procura reanimar o povo oprimido de seu tempo, anunciado a chegada de um messias rei, humilde, pobre, pastor. “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho duma jumenta. Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; quebrará o arco de guerra. Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar”. A entrada de Jesus em Jerusalém era verdadeiramente uma “entrada triunfal” – mas do triunfo do Messias dos pobres e justos. Uma reviravolta nos valores da sociedade de ontem e de hoje, uma rejeição dos valores opressores dos reinos mundanos e a celebração de Javé, o libertador, que “ouve o clamor dos pobres e sofridos” (cf Ex 3,7). A entrada de Jesus em Jerusalém, descrita desta forma, é a proclamação do “triunfo de Servo” de Javé, descrita no 2º Isaías e confirmada a seguir, na Liturgia deste dia, pela narrativa da Paixão que também nos vem do Evangelista Mateus – Mt 26,14-27,66 – Uma narrativa do triunfo da fraqueza de Deus. A narrativa tem muito em comum com os demais sinóticos e parece mais próxima do “gênero histórico”. O interesse, porém, é litúrgico, apologético e teológico, já presentes na catequese apostólica quando o Evangelho foi escrito. Após a unção em Betânia, feita por uma mulher anônima, segundo Marcos e Mateus, a narrativa traz detalhes exclusivos, o que vai reafirmando que Jesus é o Messias anunciado, porém não aquele cujas expectativas os judeus alimentaram ao longo de sua história. A narrativa cita muitas frases do 1º Testamento, confirmando assim que Jesus está inserido na história do seu povo, não numa inserção qualquer, mas numa clara opção pela via do Servo, que assume a história do seu povo pela via da fraqueza, da humildade, do servo. É o Messias que entra em Jerusalém montado num jumento, o que nada tem de manifestação de poder, e que morre na cruz abandonado por todos, traído por Judas e negado por Pedro, informações que Mateus acentua tragicamente. “Bendito é aquele que vem em nome do Senhor”. É Jesus, o servo de Javé. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ