Saboreando a Palavra

28/08/2018

“A decisão de perdoar” – Mt 18,21-35 – No evangelho deste domingo, 24º do Tempo Comum, Jesus nos fala da necessidade de perdoar o irmão, a irmã. Esta narrativa é a última parte do “Sermão da Comunidade” (Mt 18). Nela encontramos a necessidade de perdoar sempre (18,21-22) e a parábola do perdão (18,23-35). Como se poder observar, Mateus organiza as palavras de Jesus em cinco grandes Sermões. Isto mostra que já no fim do primeiro século, as comunidades necessitavam de orientações bem concretas para viver seu cotidiano, especialmente nas relações entre si. O Sermão da Comunidade, por exemplo, traz instruções de como proceder em situações de faltas ou de conflitos entre os seus membros. “Se teu irmão pecar… chama-o a sós” (Mt 18,15-20). No texto deste domingo (Mt 18,21-35), o evangelista indica mais dois procedimentos de como agir no caso de ofensas graves. Diante das palavras de Jesus sobre a reconciliação, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar? Sete vezes?” A legislação judaica exigia que se perdoasse até três vezes o irmão. Com sua pergunta, Pedro revela uma disponibilidade maior de perdoar do que a costumeira. Afinal, o número sete significa perfeição, totalidade. Mas a pergunta de Pedro ainda pressupõe que as possibilidades humanas para perdoar são limitadas: “até sete vezes”. Jesus elimina todo e qualquer possível limite para o perdão: “Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” O perdão não pode ser calculado ou mensurado. Importante é a constante disposição de perdoar e esta não pode ter limites. O perdão é uma promessa, não um sentimento. Quando se perdoa uma pessoa se está fazendo a promessa de não usar a ofensa, o passado contra ela. O perdão não muda o passado, mas alarga o futuro. Posso até continuar sentindo as mágoas da ofensa recebida, mas prometo usar de misericórdia e não retribuir a ofensa. Para ilustrar, Jesus conta uma parábola, com detalhes que terão gerado grande impacto em seus ouvintes. Jesus desafia os discípulos e as discípulas a sempre terem essa disposição de promessa para o perdão. A parábola não revela o motivo da dívida do servo, mas a quantia de dez mil talentos é impagável. O rei age conforme o costume da época: manda vender todos os bens e toda a família do servo devedor. Essa venda, no entanto, não saldaria toda a dívida. Mesmo que a família toda trabalhasse a vida inteira, a dívida não conseguiria ser paga. Diante do pedido do servo, o rei se compadece e perdoa-lhe tudo. O exagero da dívida e a atitude do rei nos desconcertam. Este não prorrogou simplesmente o prazo solicitado pelo servo; “perdoou-lhe toda a dívida”. A nossa dívida perante Deus é assim: impagável. O perdão de Deus também é sem medida. A atitude mesquinha do servo mostra o que ocorre com alguém desprovido de misericórdia. Viver do perdão implica deixar-se levar pela gratuidade e estender a mesma aos irmãos e às irmãs na prática cotidiana. A ira do rei mostra a lógica de um mundo sem compaixão. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ