Saboreando a Palavra
O cuidado dos talentos recebidos – Mt 25,14-30
A parábola dos talentos é uma das mais conhecidas, porém nem sempre bem compreendida. O contexto em que está relatada pode nos dar uma boa chave de leitura. Estamos caminhando para o fim do Ano, no qual lemos o evangelho de Mateus, um evangelho escrito para uma comunidade de Judeu-cristãos, que enfrenta conflitos com os judeus ortodoxos, com o foco nas tradições e leis, e os que vivem a novidade do Reino trazida por Jesus.
Situando a narrativa em Mateus: a partir do capítulo 19, Jesus abandona a Galileia e vai para o território da Judéia. As multidões o acompanham ( Mt 19,1-2). Seguem as narrativas mais polêmicas do 1º Evangelho, que vão até o Cap 24, quando inicia uma série de discursos e parábolas sobre o julgamento final (cf. Mt 24 e 25). É aqui que se situa a parábola dos talentos. Antes de viajar, um senhor confiou seus bens a três de seus servos. Os dois primeiros se puserem a trabalhar e quando o senhor voltou, mostraram os resultados. Seu esforço é premiado generosamente, pois souberam responder às expectativas de seu senhor. Compreenderam o que significa “cuidar dos talentos”, cuidar da proposta do Reino.
A atitude do 3º servo é estranha, e a parábola está focada nele. Como compreender tal atitude de alguém que tem tanto cuidado de seu talento, mas é tão fortemente reprovado? A mensagem de Jesus é clara: “Cuidar” não significa “conservar”, mas fazer crescer, frutificar, abrir-se ao novo, ser criativo. Ou como afirma o biblista Pagola: Não ao conservadorismo, sim à criatividade. Não a uma vida estéril, sim ao esforço arriscado por transformar o mundo. Não à fé enterrada sob o conformismo, sim ao seguimento comprometido de Jesus.
A tendência ao conservadorismo, ao “sempre foi assim”, é uma forma de enterrar o talento. Criatividade, espírito aberto, rupturas são formas de fazer render os talentos.
Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ