Saboreando a Palavra
“Estai atentos e vigiai” – Mc 13,33-37- Iniciamos neste domingo um novo Ano Litúrgico, Ano B, no qual a Liturgia nos convida a refletir e rezar o Evangelho de Marcos. O texto a ser refletido no primeiro domingo de Advento é escrito numa linguagem apocalíptica, uma linguagem profética para tempos de perseguição e perigo. O contexto do texto reflete o período conturbado da época em que o Evangelho foi escrito, ou seja, a destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos e a subsequente perseguição, morte e violência sofridas neste período. Em tal ambiente é compreensível que as primeiras gerações de cristãos vivam ansiosas pela vinda de Jesus. O Ressuscitado não poderia demorar muito para voltar. As comunidades necessitam de consolação. Jesus exerceu uma forte atração no início das comunidades cristãs e seus seguidores queriam encontrar-se com Ele o quanto antes e definitivamente. Os problemas começaram a surgir quando viam o tempo passando, as perseguições dizimando e a vinda do Senhor demorando. Começaram a perceber que corriam um sério risco, pois o primeiro ardor poderia se apagar, o cansaço se abater e a esperança esmorecer. Pela história, sabemos que muitos caíram nesta armadilha do esfriamento, do abandono da comunidade ou até na negação da fé. Neste contexto os animadores das comunidades, os evangelistas, recordam a insistência de Jesus de manter-se vigilantes, insistência presente nos Evangelhos destes últimos domingos. A “vigilância” tornou-se palavra-chave, repetida de várias formas: “vigiai”, “estai alertas”, “vivei despertos”. A ordem não é apenas para os discípulos que escutam a Jesus. “O que digo a vocês, dizei a todos: ‘VIGIAI’”. Trata-se de uma ordem dada para todos os tempos. Estar sempre de prontidão, ele certamente virá, mas não num tempo cronológico determinado. Vigiar constantemente, em todos os momentos: à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo, pela manhã engloba todas as horas do dia. Não há tempo de deixar cair a guarda, de cochilar. A sua vinda é quase imperceptível, mas está em constante manifestação. Vigiar é cultivar a sensibilidade para perceber os sinais, que só um sentinela, no seu posto de guarda, percebe. Estas são recomendações que se encaixam no período litúrgico do Advento. Uma espera dinâmica que já antecipa a vinda do Senhor.