Saboreando a Palavra

28/08/2018

Cuidado e transgressão – Mc 1,40-45
Prosseguido nas trilhas do primeiro Capítulo do Evangelho de Marcos, temos uma cena de muito impacto. Desde o chamado à beira do Mar da Galileia (1,16-20), Jesus revela o reino de Deus acompanhado de seus discípulos. Inicia à beira do mar (1,16-20), entra na sinagoga (1,21-28), vai para a casa de Simão (1,29-34), retira-se a um lugar deserto (1,35-39), e os seus discípulos o acompanharam sempre.
Em Mc 1,40-45 a narrativa muda de perspectiva. Não situa a cena em algum lugar e os discípulos não são mencionados. É um “não lugar” e se trata de um encontro com um “não pessoa”. Aproxima-se um leproso, um sem nome, alguém que, de acordo com a lei, não poderia entrar em contato com ninguém, e seu mal era castigo de Deus. Ele se aproxima de Jesus e diz: Se queres, podes limpar-me! O leproso pede, não a cura, mas para limpá-lo. Será que Jesus vai se atrever a limpá-lo de algo que foi determinado por Deus? Vai Jesus transgredir a Lei, a Teologia, a Tradição?
Jesus, o profeta da compaixão, o cuidador da vida, assim como o leproso, transgride tudo o que a religião oficial afirmava: movido de compaixão (não movido pela Lei), estende-lhe a mão (não a punição) e tocou-o e disse (não preservação da pureza). A vontade soberana de Jesus é afirmada com toda a força: eu quero, sê purificado!
Para cuidar da vida, para viver a compaixão, muitas vezes se faz necessário a transgressão.