Saboreando a Palavra

28/08/2018

O Reino de Deus não tem fronteiras – Mc 7,31-37 – 23º TC
Após uma intensa atividade na Galileia (Mc 1 a 7), Jesus deixa a Judeia e vai para a região dos gentios. Não quer que ninguém saiba. Parece que “precisa de um tempo”. É a assim denominada “crise da Galileia”. Não consegue ficar despercebido, pois logo é procurado por uma mulher siro-fenícia, ou seja, uma estrangeira (cf. Mc 7,24-30). O primeiro gesto que realiza é a cura da sua filha.
No Evangelho deste domingo, temos um novo gesto em favor dos gentios. O texto anterior (Mc 7,1-23) trazia a polêmica de Jesus com os fariseus à respeito das tradições. Jesus os acusa de “abandonar o mandamento, apegando-se à tradição humana”. Entre as “tradições humanas”, a lei do puro e do impuro é a mais perversa. É importante considerar que a conduta dos fariseus estava fortemente alicerçada na lei do puro e do impuro. Os gestos e palavras de Jesus são uma verdadeira afronta a esta Lei.
A cena da cura do surdo-gago é exclusiva de Marcos. Trata-se de um doente, alguém impuro, um excluído. É uma pessoa quase totalmente incomunicável. Não ouve e não fala. É interessante observar a proximidade corporal de Jesus com o surdo-mudo: os dedos, a saliva, o toque da língua. Jesus se comunica com gestos corporais, com o tato. Toca intensamente na pessoa impura. Uma completa ruptura da lei.
Há também uma forte tensão emocional: levantando os olhos ao céu, “gemeu”. Seria expressão de súplica para poder realizar algo exigente e difícil? A mesma dificuldade aparece na cura do cego de Betsaida (Mc 8,22-26). Também em Mc 8,12, frente aos fariseus que lhe exigem mais um sinal do céu, Jesus tem a mesma reação: suspirando profundamente.
Após todos estes gestos e emoções, há um imperativo claro: abre-te, desata. Após romper a Lei do puro e impuro, a pessoa pode abrir-se, desatar a língua, abrir os ouvidos. Há certamente a ação de Jesus, mas abrir-se, desatar as amarras, é decisão e participação pessoal.
Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ

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