Saboreando a Palavra

28/08/2018

Uma voz clama no deserto” – Lc 3,1-6 – Segundo domingo do Advento. O Evangelho deste domingo inicia situando o tempo histórico da notícia. Coloca-nos a par da estrutura do Império Romano e do mundo da Judeia, informando sobre o imperador Tibério Cesar, de Roma; Pôncio Pilatos, governador da Judeia; Herodes, tetrarca da Galileia; Filipe, tetrarca da Itureia, etc. Estas figuras são identificadas, ao longo da História, como pessoas injustas, violentas, corruptas. Em relação ao mundo da Judeia, temos o Sumo Sacerdote Anás e Caifás, ambos envolvidos na morte de Jesus. Uma realidade que afronta a proposta de Jesus e de seu Reino.
Neste contexto aparece João Batista. Segundo o próprio evangelista, no 1º Capítulo de Lucas, sabemos que João Batista pertencia a uma família sacerdotal e, pela lógica, deveria estar a serviço do Templo. Como e quando abandonou esta sua possível função, não sabemos. O fato é que está no deserto quando a “Palavra de Deus lhe foi dirigida. É a partir do deserto, longe da estrutura do império romano e do mundo judaico, que João começa a percorrer as “periferias do mundo” de então, o Jordão, proclamando um batismo de arrependimento. Ele se auto define como “voz que clama no deserto”. É o profeta do deserto que oferece o perdão nas águas do Jordão e ignora o processo de purificação dos pecados que os sacerdotes controlavam no templo.
Deserto é distanciamento de toda a estrutura acima mencionada. Lá não chega a perversidade de Herodes, nem a violência de Pilatos. Lá não se ouve a cantoria do templo nem os odores dos sacrifícios. Lá não há soldados para perseguir opositores nem arrecadadores de tributos para sustentar as guerras.
Deserto é deserto. De acordo com Isaías, o “deserto” é o melhor lugar para abrir-se a Deus e iniciar a conversão. E de acordo com o profeta Oseias, é no “deserto” que Deus “fala ao coração”. Certamente a humanidade hoje necessita de pessoas de “deserto”, abertas a Deus, longe desta corrida desenfreada que nem sabe bem para onde. Nós precisamos retirar-nos ao “deserto”. Advento é tempo de ir para o deserto.
Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ

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