Saboreando a Palavra

28/08/2018

”Tu és o meu filho amado, em ti está o meu agrado” (Lc 3,15-16.21-22). Festa do Batismo de Jesus! Com esta celebração encerra-se o tempo de Natal e a Liturgia nos introduz no mistério do “Tempo Comum”, ou seja, neste tempo de seguimento a Jesus no cotidiano de nossa vida. O Evangelho deste domingo propõe abrir-nos a Deus, da mesma forma como Jesus o fez ao acolher o dom do Espírito enquanto estava em oração logo após o seu batismo. Em Lucas, a narrativa do batismo de Jesus vem depois do “Evangelho da Infância” (Lc 1-2). Entre as narrativas da infância e o início da missão de Jesus (Lc 4,14ss), o 3º Evangelho insere o relato da preparação do caminho do Senhor feita por João Batista (Lc 3,1-20) e o relato da preparação de Jesus para sua missão (Lc 3,21-4,13). Como dobradiça que liga as duas partes, está a narrativa do batismo de Jesus (Lc 3,21-22). Temos, assim, um paralelo entre dois batismos: o de João com água e o de Jesus com o Espírito e com o fogo.
João aponta para o Messias – A comunidade de Lucas faz questão de situar historicamente o início da atividade de João (Lc 3,1-2). Do ponto de vista político, foi no tempo de Tibério, imperador romano de 14 a 37 d.C., e de Herodes Antipas, governador da Galileia desde 4 a.C. até 39 d.C. Do ponto de vista religioso, foi na administração do sumo sacerdote Caifás (sumo pontífice de 18 a 36 d.C.), genro de Anás (6-15 d.C.), nomeado sumo sacerdote por Herodes Antipas em nome do imperador. Por um lado, João denuncia profeticamente o reino da opressão representado por Tibério e por Herodes, em aliança com o templo de Jerusalém. Diante de tanto sofrimento, o povo esperava ansiosamente a vinda de um libertador. João Batista faz fortes críticas aos poderosos, anunciando um juízo severo para eles (c.Lc 3,17). Por isso, o povo começou a ver em João a esperança da vinda do messias, o rei ungido por Deus que viria para libertar o seu povo. Neste contexto se narra o Batismo de Jesus.
O Messias assume a sua missão – Jesus é batizado com água junto ao povo, em meio ao povo, na fila do povo. No batismo é investido pela sua missão, guiado pelo Espírito de Deus. É somente Lucas quem faz referência à atitude orante de Jesus no seu batismo. E é esta atitude de intimidade de Jesus com o Pai que faz com que o Espírito o transforme e o envie para evangelizar os pobres (Lc 4,18-19).
Lucas apresenta o batismo de Jesus depois da prisão de João como o ato em que o Espírito de Deus vem confirmar seu messianismo, ungindo-o para a missão do serviço. Nesse momento, Jesus estava em oração, isto é, em íntima comunhão com a fonte da vida, com o projeto do Reino. Tão íntima é essa comunhão que, em Jesus, Deus e a humanidade se encontram. Esse é o significado da abertura do céu (Lc 3,21), fechado há muito tempo, segundo a tradição de Israel. Em Jesus, céu e terra estão próximos que é possível perceber a presença do Espírito de Deus, de forma corpórea, tanto na figura de uma pomba como nas atitudes de Jesus. Temos uma epifania, ou seja, uma manifestação do filho de Deus ao mundo, o Filho amado, que vem libertar o povo. Batizar-se em nome de Jesus, na linguagem paulina, é revestir-se de Cristo, ou seja, é agir como o próprio Cristo agia, superando todas as formas de discriminação (Gl 3,27-28). E nós, no batismo, morremos com Cristo e ressuscitamos com ele para uma vida nova (Rm 6,1-14). Viver como pessoa renovada e ressuscitada é, portanto, missão de todos nós pessoas amadas pelo Pai. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ

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