Saboreando a Palavra

28/08/2018

Tentado a seguir por outro caminho” – Lc 4,1-13 – Estamos no 1º Domingo da Quaresma, tempo propício para “ressignificar” nossa vida de seguimento de Jesus. A Liturgia nos oferece o texto das tentações de Jesus na versão de Lucas. O filho de Deus é posto à prova. É estranho imaginar que Jesus, sendo Deus, tenha sido tentado. Os cristãos das primeiras gerações certamente se interessaram muito por esta provação de Jesus, pois também eles viviam tentados a seguir por outros caminhos. Buscavam assim luzes e forças em Jesus e no seu modo de vencer tentações. O relato é surpreendente. Jesus é conduzido pelo Espírito para o deserto e lá é tentado pelo “diabo”. O texto diz que foi o “diabo” que tentou Jesus e não o “demônio”. O vocábulo “diabo” significa “aquele que divide”, que confunde, que tenta levar por outros caminhos. Isto já nos ajuda a compreender que não se trata de tentações de ordem moral. É algo bem mais profundo. Trata-se de projetos de vida e missão, com falsas estratégias, com discursos persuasivos e lógicos, mas que desviam do essencial. Jesus é tentado a seguir por outro caminho. Que caminhos o diabo propõe? Não o do messias servo, mas o de rei poderoso. Esta tentação é persistente e continua também na Igreja: não ao serviço e à humildade, mas ostentação e o poder. A tentação de Jesus sempre inicia com uma suspeita: “se és o Filho de Deus”! Ou poderia ser uma ironia: “Já que és o filho de Deus”!!! A 1ª tentação é a da ‘autorreferencialidade’. Se és o Filho de Deus, cuida primeiro de ti, da tua fome: transforma pedras em pão. É uma tentação que persiste, com toda força de convencimento, nos tempos modernos: o direito ao prazer, ao cuidar de si, de seu bem-estar. Nada de preocupação com a fome dos outros. A 2ª tentação é a da riqueza. Jesus não deve ter tido a tentação de ficar pessoalmente rico, pois sua origem não o permitiria. Mas é tentado a fazer aliança com a riqueza, a ver a vida e as relações por esta ótica. Uma ideologia que se faz pensamento único também hoje. O ter é algo necessário, mas a serviço de quem está o ter? A 3ª tentação é ainda mais sutil. Usa do Templo, do centro religioso, da religião para propor renome e prestígio. É tentado a ser um Messias triunfalista, daqueles que tem a mídia a seu favor e que estampam suas imagens nos outdoor das praças. É a grande tentação do poder, com mediações religiosas. Poder para servir é algo de grande valor, mas quando usado para dominar, é a perversão das relações. No verso 13 o “diabo se retira para voltar em tempo oportuno”. O diabo sempre volta! O discernimento, a abertura para as surpresas de Deus deve ser permanente, pois o diabo sempre volta e com fantasias novas. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ

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