Saboreando a Palavra

28/08/2018

“A misericórdia não tem limites” – Jo 8,1-11 – O ano da Misericórdia, promulgado pelo Papa Francisco, infelizmente pode se transformar num “ano a mais” e mais uma vez não chegar ao coração do Evangelho. Vivemos em tempos em que se promove uma cultura de vingança, de intolerância religiosa, de hierarquização moral, de exclusão social e étnica. A Igreja, a VR, os cristãos batizados, os ministros ordenados, a hierarquia católica correm o risco de se fixar na periferia do Evangelho, num culto autorreferencial, onde o centro é a satisfação pessoal e não o mistério de Deus a ser contemplado e experienciado, como tanto nos alerta o Papa Francisco. O Evangelho deste domingo é uma narrativa exemplar de superação desta autorreferencialidade religiosa e do mergulho no coração do evangelho. A nós hoje talvez não nos surpreenda tanto que Jesus tenha tido um bom trato com as mulheres. Certamente muitos na Igreja ainda buscam neutralizar as narrativas desta familiaridade de Jesus para com as mulheres, afim de não se sentirem convocados a uma mudança. O certo é que, no contexto da época, Jesus rompeu com todos os paradigmas da cultura vigente: judaica, grega, romana. Seu relacionamento com as mulheres foi sem precedentes. Há quem diga que a maior revolução trazida por Jesus foi a relação de igualdade entre homens e mulheres, realidade esta ainda não assumida inteiramente pela Igreja e pela sociedade. Trazem a Jesus uma mulher surpreendida em adultério. Estranho é que não trazem o parceiro, pois segundo a Lei (cf. Lv 20,10: Dt 22,22-24), os dois deveriam ser julgados e apedrejados, se culpados. O relato desmascara diversas contradições: querem pôr Jesus à prova e não zelar pelo bem; apelam para a Lei, mas eles mesmos descumprem-na; trazem a mulher e dizem que fora surpreendida em adultério. Se foi surpreendida, viram o parceiro e este não foi denunciado. Sendo a mulher fonte de impureza, e ainda mais nestas condições, colocam-na no meio, no templo onde Jesus ensinava, lugar onde só os puros poderiam estar. Jesus não suporta esta hipocrisia social construída pelo domínio dos homens. Com simplicidade e valentia admiráveis, impõe a verdade, a justiça e a compaixão. Nada pergunta sobre o suposto adultério da mulher, mas olha ao seu redor e sentencia: “quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. Os acusadores se retiram envergonhados. Jesus se dirige à mulher humilhada, com ternura e respeito: “também eu não te condeno”. Jesus confia na mulher e a anima a dignificar sua vida. É o rosto da Misericórdia num mundo sem compaixão. Ir. Zenilda Luzia Petry – IFSJ.

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