Segundo Domingo do Advento
“Uma voz clama no deserto” – Mt 3,1-12 – Segundo a fé cristã, Deus quer a salvação da humanidade! Para isto Jesus nasce, vive e morre: para concretizar a promessa do Pai e inaugurar um mundo novo! Uma realidade totalmente diferente deste velho mundo que conhecemos: cheio de ódio, de conflitos, mentiras, violência, guerras. Diante da grandeza deste mistério de nossa fé, faz-se necessário um intenso processo de preparação. O Advento nos propõe vivenciar esta proposta de silêncio fecundo, de espera vigilante, de olhar atento, de acolhida generosa. A liturgia deste segundo domingo do Advento nos oferece pistas concretas. Na primeira leitura, o profeta Isaías afirma que, no tempo oportuno, irá chegar o Messias (“ungido” de Javé), que inaugurará um reino de justiça e de paz. Em linguagem poética e simbólica, a partir do olhar do camponês, descreve um mundo, quase impossível, que então nascerá: “o lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito” e assim por diante… Um sonho a ser cultivado…. Paulo, na carta aos cristãos de Roma, lembra as exigências concretas para a realização deste sonho. Não mais em linguagem simbólica, como Isaías, Paulo exorta os membros da comunidade que se consideram “fortes” a darem as mãos aos mais débeis, ajudando-os a superar as dificuldades do caminho cristão. Devem dar testemunho de união, de harmonia, de fraternidade, acolhendo e ajudando os irmãos mais débeis e sendo sinais desse mundo novo que Cristo veio inaugurar. O Evangelho, por sua vez, nos apresenta a figura de João Batista. Sem fazer uma descrição de suas origens, como faz o evangelista Lucas, o evangelista Mateus simplesmente inicia dizendo que “apareceu João Batista a pregar no deserto da Judeia” e dá destaque a vários aspectos: a figura, a mensagem, as reações ao anúncio, a comparação entre o batismo de João e o batismo de Jesus, o deserto. São muitos os elementos, impossível considera-los todos aqui. Mas a indicação do cenário onde João atua merece atenção. O “deserto”, ambiente carregado de simbolismo, é lugar do encontro com Deus, onde “Deus fala ao coração” (tradição do AT); também é o lugar de refúgio para os que viviam fora da “lei”, os que rompiam com a religião institucional (NT). Ambiente de liberdade, no deserto não chegavam as discussões teológicas dos doutores da Lei ou as notícias das intrigas palacianas de Jerusalém, nem os ecos das festas sociais de toda a Judeia. Deserto é lugar de privação e de despojamento! A figura de João Batista é reveladora: seus trajes nada têm a ver com as roupas finas de uso no templo; sua alimentação está em profundo contraste com os banquetes dos que vivem na abundância. Não só palavras, mas a sua pessoa questiona o estilo de vida de quem se fixa nos bens materiais. Sua mensagem centra-se num imperativo: “convertei-vos”, ou seja, façam um caminho de volta para Deus, mudem vosso modo de vida, abandonem o egoísmo, a autossuficiência, escutem Deus novamente. Isto é uma urgência, porque o “Reino dos céus está próximo”. Com imagens da vida no campo, mostra a urgência da conversão, da volta para o Senhor: “O machado já está posto à raiz das árvores. Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada e lançada ao fogo”. Só há uma única saída possível: uma conversão radical a Deus, uma mudança profunda do sentido da existência. É o clamor que nos vem do “deserto”, de todos os desertos de nossa existência. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ