Solenidade da Santíssima Trindade

01/06/2023

 “Deus amou tanto o mundo! ” – Jo 3,16-18 – Domingo da Santíssima Trindade – A Solenidade que hoje celebramos é um convite a contemplar o mistério de Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os seres humanos para entrarem em comunhão com esse mistério maior. Não de se trata de buscar decifrar o mistério que se esconde por detrás de “um Deus em três pessoas”.

            A primeira leitura, Ex 34,4b-6.8-9, mostra que Deus é sempre o mistério que a “nuvem” esconde e revela: percebe-se sua presença, mas não se sabe onde está. Por isto não cabe a pergunta que muitos de nós fazemos: “onde está Deus”? Deus não está neste ou naquele lugar. Ele é uma presença que se percebe, se sente, se acredita. O ser humano tem grande ânsia por penetrar no mistério de Deus, o que leva, muitas vezes, a inventar rostos, imagens… A Bíblia proíbe esculpir imagens cf Ex 20,4-5), o que precisa ser bem compreendido. Uma imagem é a projeção dos sonhos pessoais, de projeções individuais. Fazemos imagens de nós mesmos, que não correspondem à realidade pessoal, o que pode gerar uma verdadeira idolatria, ou melhor, “egolatria”. Em relação ao divino, cria-se um rosto que nada tem a ver com o ser de Deus. Para entrarmos no mistério de Deus, é preciso estabelecer com Ele uma relação de proximidade, de comunhão, de intimidade, que nos leva ao encontro da sua voz, dos seus valores, dos seus desafios.

O texto do Evangelho deste dia faz parte da conversa entre Jesus e um “chefe dos judeus” chamado Nicodemos (cf. Jo 3,1). Nicodemos foi visitar Jesus “de noite” (cf. Jo 3,2), o que parece indicar que não queria se comprometer e arriscar a posição destacada de que gozava na estrutura religiosa judaica. Membro do Sinédrio, Nicodemos aparecerá, mais tarde, a defender Jesus perante os chefes dos fariseus (cf. Jo 7,48-52); também estará presente quando Jesus foi descido da cruz e colocado no túmulo (cf. Jo 19,39).

O diálogo entre Nicodemos e Jesus é um tanto difícil de compreender. Nas entrelinhas,  Jesus explica como é que a cruz faz parte do projeto de Deus. Esse Homem que vai ser levantado na cruz veio ao mundo, encarnou-se na nossa história humana, assumiu a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade. Porque fez de sua vida uma total entrega, foi preso, torturado e morto numa cruz.

Por que Jesus veio ao mundo? Veio porque o Pai ama a humanidade e quer salvá-la. O Messias não veio para julgar o mundo, “mas para que o mundo seja salvo por Ele”.   Quem aceita a proposta de Jesus, recebe o Espírito, vive no amor e na doação, escolhe a vida definitiva. Quem prefere continuar escravo de esquemas de egoísmo e de auto-suficiência, auto-exclui-se da salvação. A salvação ou a condenação não são um prêmio ou um castigo que Deus dá pelo bom ou mau comportamento da pessoa. A salvação é o resultado da livre escolha humana frente à oferta de salvação de Deus.

João é o evangelista que mais se dedica à contemplar o amor de Deus que enviou ao mundo o seu Filho, o seu único Filho, para apresentar à humanidade uma proposta de felicidade plena, de vida definitiva. Jesus, o Filho, fez da sua vida um dom, até à morte na cruz, para mostrar o “caminho” da vida eterna…

No dia em que celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade, somos convidados a contemplar esta grandiosa história de amor e reconhecer que somos seres limitados e pequenos, e que, como Nicodemos, precisamos “nascer de novo”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ