Solenidade de Pentecostes
‘Recebei o Espírito Santo”- Jo 20,19-23 – Vamos encerrando o ciclo litúrgico do tempo pascal com uma Liturgia muito solene, uma das três maiores celebrações da Igreja, a recordar: Natal, Páscoa e Pentecostes. Pentecostes constitui como que o coroamento do projeto divino de salvação, que tem sua concretude na fundação da Igreja. A descrição bíblica mais completa e simbólica é narrada na primeira Leitura, do livro dos Atos dos Apóstolos. Mesmo sendo descrito como se fosse um fato de histórico, com informações de testemunhas, não é uma narrativa de fato ocorrido. Trata-se de uma catequese que visa mostrar que o Espírito Santo, a 3ª pessoa da Santíssima Trindade, é a fonte inesgotável de sabedoria, de vigor, de força, de unidade, de amor. É o Espírito de Deus que une os povos, as línguas, as nações. É o Espírito Santo que gera e conduz a Igreja. Como nas demais grandes solenidades, a Liturgia de Pentecostes, antes do Evangelho, vem enriquecida com um belo hino, a denominada “Sequência”, um hino de beleza e grandeza teológica únicas. O Espírito Santo é exaltado por atributos, ações, súplicas e louvores, que nos ajudam a compreender e acolher a sua ação na Igreja. O Evangelho da Liturgia deste dia, por sua vez, parece se distanciar da primeira Leitura. Olhemos porém mais de perto. Trata-se de um texto que inicia dizendo: “Na tarde daquele dia, o primeiro da semana”. É o primeiro dia de um tempo novo, o tempo da humanidade nova, nascida da ação criadora e vivificadora de Jesus. No relato de João não há nenhuma indicação de ser o 50º dia depois da Páscoa, conforme a cronologia de Lucas. A ressurreição de Jesus é um “kairós”, ou seja, um evento que dá novo sentido à história. É o “primeiro dia”, mas não em sentido cronológico. Não é um “cronos”, que indica algum acontecimento que se registra na história. No “primeiro dia da semana”, os discípulos ainda estavam confinados, na casa fechada, com medo. Jesus “aparece no meio deles”. Uma experiência inesperada. O evangelho da Solenidade do Pentecostes descreve o encontro entre Jesus ressuscitado e a sua comunidade. Para esta comunidade que se reúne à volta de Jesus, ele transmite duplamente a “paz”, ou seja, a vitória sobre o medo, a perseguição, a violência. Depois Jesus mostra aos discípulos as “mãos” com a marca dos pregos e o “lado” que foi trespassado pela lança do soldado. É a verdadeira identidade de Jesus: amor e doação. Os discípulos ficam cheios de alegria. A “alegria” é um dos frutos do Espírito Santo. Aliás, a bem da verdade, todo o relato do encontro de Jesus com seus discípulos está perpassado pelos “frutos do Espírito”, conforme São Paulo: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio (Gl 5,22-23). Assim, tomados pelo santo Espírito divino, os discípulos são convocados para a missão. “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”. Para que os discípulos possam concretizar a missão, Jesus realiza um gesto inesperado, mas muito significativo: “soprou” sobre eles. O mesmo sopro da criação, infundindo a vida no ser humano. Animados pelo Espírito recebido de Jesus, os discípulos de ontem e de hoje percorrem “todas as nações” testemunhando o Evangelho. O “sopro” de Vida doado por Jesus inunda o mundo de perdão e misericórdia. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ