Transfiguração do Senhor

03/08/2023

Transfiguração do Senhor – Mt 17,1-9 – Iniciamos o mês de Agosto, o conhecido mês vocacional que, neste ano, é destacado de forma especial, pois se trata do “Mês vocacional”, do “Ano Vocacional”, cujo tema é muito sugestivo e oportuno: Vocação: Graça e missão. Neste ano, a Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum é substituída pela Festa da Transfiguração do Senhor. A narrativa da Transfiguração de Jesus está presente nos evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos e Lucas, o que por si só já mostra a importância que as comunidades cristãs primitivas davam a este episódio. Certamente a cena da Transfiguração do Senhor traz luzes para o Tema da Vocação. Olhemos o texto mais de perto, segundo a narrativa de Mateus: Pedro e seus companheiros caminham com Jesus pelas estradas poeirentas da Galileia. Haviam percorrido o território de Cesareia de Filipe, região habitada por pessoas de maior poder aquisitivo. Foi ali que Jesus questionara os discípulos sobre sua pessoa e missão, e Pedro fez a confissão de Jesus ser o “Messias, o Filho de Deus vivo” (cf Mt 16,13-20). Jesus então iniciava seus anúncios da paixão e falou das exigências do seguimento (cf Mt 16,21-28). Do ponto de vista literário, a seguir, temos o relato da transfiguração do Senhor (Mt 17,1-9). A narrativa inicia dizendo: “seis dias depois”… Nada se informa sobre estes “seis dias”. Pode ser apenas uma expressão de transição de temas, mas também pode ser um eco de Ex 24,16, que relembra a presença de Deus no Sinai. O fato é que a narrativa vem logo após o 1º anúncio da Paixão e das exigências do discipulado. Estudiosos afirmam que se trata de uma pausa no caminho para reanimar os discípulos que ficaram assustados e como medo. Jesus oferece uma visão da glória futura.

O fato é que, no meio do caminho, Jesus toma “Pedro, Tiago e João”, três dos quatro primeiros discípulos (André ficou fora!) e leva-os a parte, sobre uma montanha. Para a cultura judaica, a montanha é o lugar da revelação de Deus, como também das tentações (Mt 4,1-11). Assim foi no Monte Sinai, com Moisés (Ex 19,3ss), no Monte Horeb, com o profeta Elias (cf 1Rs 19, 8ss), na Montanha da Galileia, com Jesus (cf Mt 5-7)….

 Certamente, o episódio da Transfiguração precisa ser lido para além das palavras e das imagens. Muitos aspectos poderiam ser destacados. As semelhanças com o relato da manifestação divina no Monte Sinai, são muitas. Além da “montanha”, temos a “nuvem”, a “face” que resplandece como Sol, as “vestes” brancas, a “voz” de Deus, as “tendas”, etc.

De repente lhes apareceram Moisés e Elias conversando com Ele”. Tanto Moisés quanto Elias, dois personagens fundacionais na formação do Povo de Deus, então já são apontados como aqueles que “conversavam com Deus face a face”. Pedro, sempre porta-voz do grupo, disse a Jesus: “Senhor, é bom estarmos aqui!” Se queres, farei aqui três tendas, uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. As tendas são eco da vida itinerante vivida na travessia do deserto. Desta vez Pedro se submete a Jesus. “Se queres”! Não se impõe como em outras oportunidades. Aqui também Deus faz Pedro calar: “Enquanto ele ainda estava falando, de repente uma nuvem luminosa os cobriu”. A nuvem é sinal da presença de Deus (cf Ex 16,10; 19,9). Até aqui temos visões e falas de Pedro. Deus rompe o silêncio divino e fala de dentro da nuvem: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; ouvi-o”. A mesma proclamação que fora ouvida no Batismo, quando os “céus” se abriram (Mt 3,16s). Na cena da transfiguração há um acréscimo muito importante: “ouvi-o”.

O temor toma conta dos discípulos, pois caem com o rosto no chão. Jesus toca-os e ordena: “Levantai-vos e não tenhais medo! ”Levantaram-se e viram somente a Jesus. Se diria hoje: “caíram na real”. Convidados a descerem do monte, Jesus lhes ordenou a ficarem em silêncio, nada divulgarem sobre esta visão. Não percorreram todo o caminho de Jesus, logo não compreenderam  o projeto de Jesus. Após a morte e ressurreição de Jesus, vão proclamar isto ao mundo.

Neste inicio do mês vocacional, vamos destacar a ordem do Pai de ouvir a Jesus. “Ouvi-o”! Ao longo do Evangelho de Mateus se destaca o verbo “ouvir”: “quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (13,43). Jesus convida a bem ouvir, a bem compreender, e assim realizar o que Ele diz. Há ouvidos que não ouvem, ou ouvem mas não fazem. Ouvir é uma qualidade central do discipulado, do vocacionado. Agosto é o mês das “vocações”. Oxalá seja um mês de “audições”, de “ouvições”. Que nossos ouvidos sejam igualmente “transfigurados” e assim sejamos a “transparência do divino” nos caminhos da vida. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ