23º Domingo do Tempo – 05/09/2021

02/09/2021

Abre-te! – Mc 7,31-37 – Estamos acompanhando a itinerância de Jesus pela Galileia, segundo o relato de Marcos. Os gestos e palavras de Jesus, sinais do Reino de Deus em ação, vão gerando entusiasmo nas multidões e multiplicando, sempre mais, reações negativas em seus adversários. As discussões com os fariseus e escribas, relatadas no Evangelho do domingo anterior, levam Jesus a se afastar do território da Galileia e se dirigir às regiões dos gentios. É a conhecida “crise da Galileia”. Os milagres e ensinamentos de Jesus não garantem a fé das multidões e geram sempre mais oposição entre os dirigentes religiosos. Jesus sai do ambiente judaico e atravessa o território da “Decápole”. A “Decápole” era uma liga de dez cidades, que se formou depois da conquista da Palestina pelos romanos, no ano 63 a.C.. Eram helenistas e não estavam sujeitas às leis judaicas. Mas também eram consideradas excluídas da salvação.  Este é o cenário da cura do surdo-mudo, alguém duplamente excluído: por ser de origem pagã e ser portador de impureza.

            Marcos descreve, com abundância de detalhes, todos os gestos e palavras. “Trazem a Jesus”, não veio por iniciativa pessoal e suplicam  para que Jesus imponha as mãos. Quem trouxe este enfermo para Jesus? O evangelho não informa. Era surdo, mas falava um pouco. “Jesus afasta-se da multidão, mete os dedos nos ouvidos, com saliva toca a língua, ergue os olhos ao céu, suspira e diz: “Effathá” = “Abre-te”. Marcos não visa apenas relatar uma cura. Tais detalhes certamente tem grande significado simbólico.

Olhemos mais de perto. Sabemos que linguagem é um meio privilegiado para a comunicação, para estabelecer relação. Assim sendo, o surdo-mudo é um homem que tem dificuldade em estabelecer relações, em partilhar, em dialogar, em comunicar. Por outro lado, segundo a religião oficial, o surdo-mudo é um “impuro”, um pecador e um maldito. Além de tudo, ele vive em território pagão da Decápole. Era considerado excluído da salvação.

Certamente este surdo-mudo é um personagem representativo de diversas pessoas e situações. São os que vivem isolados no seu mundo, de ouvidos fechados aos apelos de Deus e da realidade, com coração bloqueado à relação com os outros. São também os que são excluídos da salvação pela religião, incapazes de se aproximar do divino, de ouvir sua Palavra. No relato, o surdo-mudo é tocado pelo dedo de Jesus, ou seja, pelo poder de sua mão. A saliva transmite o sopro, a força, a vitalidade de Jesus. Como outrora no paraíso, Jesus recria o ser humano. Mas a força de transformação vem de dentro, do interior: “abre-te”. O dom é concedido a quem se abre, a quem recebe o sopro vital. Recebido o dom, torna-se difusivo. Não deve contar a ninguém, mas ninguém consegue conter a boa nova de quem abriu os ouvidos e entrou em comunhão com Deus e com a comunidade. Esta ação de Jesus deixa todos assombrados: “Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos ouçam e que os mudos falem”.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ