25º Domingo do Tempo Comum
Que discutíeis no caminho”? – Mc 9,30-37 – A liturgia do 25.º Domingo do Comum nos ajuda a focar sempre mais na meta para a qual Deus nos criou. A primeira leitura, tirada do livro da Sabedoria, nos mostra que se faz necessário o discernimento entre a proposta do mundo, cheia de bem-estar, grandezas e poder, e o projeto de Deus, assumido pelos “justos”, pessoas “ incompreendidas, desprezadas e hostilizadas”. O Evangelho, por sua vez, mostra a lógica divina que desconcerta a lógica do mundo. Olhemos o texto no seu contexto. Conforme o relato do 24º domingo, nos arredores de Cesareia de Filipe, após a resposta de Pedro a propósito da pergunta feita por Jesus, – “e vocês, quem dizem que eu sou”, – Ele continuou dizendo que iria para Jerusalém e que aí seria rejeitado pelas autoridades religiosas, preso, condenado à morte e crucificado. Pedro, que respondera certo, reagiu mal e tentou desviar Jesus de sua meta. Os outros discípulos também não estavam conectados com o que Jesus dizia. Seu foco era outro: tinham sonhos de grandeza, de poder e de prestígio. As palavras de Jesus não encontravam eco neles. Como se batesse num muro e retornava a quem havia lançado a palavra. Mas Jesus continua caminhando com eles através da Galileia. As multidões não estão presentes. Segundo o Evangelho, Jesus quis manter o itinerário em segredo, porque pretendia “ensinar” os seus discípulos, que tinham muito a aprender. Inicia por afirmar o que vai ocorrer em Jerusalém. “O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens e eles vão matá-Lo; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará”. Jesus fala com uma tranquilidade assustadora. Está disposto morrer na cruz. Os discípulos nada compreendem e tem medo de perguntar. Não compreendem ou discordam do caminho que Jesus escolheu seguir? Um diálogo mais profundo se faz necessário. Chegando em casa, Jesus interroga-os sobre as discussões do caminho. Um silêncio passa a reinar na casa, pois não há sintonia entre seus interesses pessoais e o caminho assumido por Jesus. Marcos é o único evangelista que informa o assunto da conversa ao longo do caminho: “tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior”. Convém lembrar que a hierarquização dos postos e das pessoas era uma questão muito importante na sociedade da Palestina de então. O protocolo da “ordem” a ser seguida nas assembleias, na sinagoga, nos banquetes, era bem definida. A não observância desta “ordem” gerava muitos conflitos. Hoje há sociedades que mantém o rigor desta hierarquização. Certamente os discípulos seguiam esta lógica. Em seus sonhos de triunfo do Messias, se fazia necessário cuidar deste protocolo. Jesus lhes anunciava a morte de cruz e seu total aniquilamento e os discípulos se mantinham em seus sonhos tão penosamente imaginados. “Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: ‘Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos”. Sentar-se é assumir a função de mestre que ensina com autoridade. Sem negociação alguma, Jesus ataca o problema da forma mais radical possível, pois está em jogo a essência do projeto do Pai que Jesus assume realizar. Quem está no seu seguimento, não tem outro caminho. (Ir. Zenilda L. Petry)