27º Domingo do Tempo Comum

05/10/2023

A vinha de Deus – Mt 21,33-43 – Pela 3ª vez seguida, a liturgia nos traz a imagem da “vinha”, símbolo do povo de Israel no AT e imagem do Reino de Deus no NT. A alegoria da “vinha”, neste domingo, já aparece na primeira leitura, na bela poesia do profeta Isaías (cf Is 5,1-7). Há um profundo contraste entre o amor e a solicitude de Deus pela sua “vinha” e a falta de frutos de justiça e misericórdia, esperadas dos seus vinhateiros. Sem dúvida, esta canção lança luzes sobre o Evangelho deste dia, em que Jesus retoma a imagem da “vinha” e faz duras criticas aos líderes judaicos que se apropriaram da “vinha de Deus” em benefício próprio e se recusaram a oferecer a Deus os frutos que Lhe eram devidos, através de sua adesão aos valores do Reino de Deus.

Olhando a narrativa evangélica mais de perto, vemos que o cenário continua sendo Jerusalém, logo após a entrada de Jesus na cidade (cf. Mt 21,1-11). Em Jerusalém, tudo se volta contra Jesus. Cresce a cada instante a tensão entre Jesus e os líderes judaicos, de tal forma, que se pode deduzir que se trata de um processo já decidido e organizado. Jesus tem plena consciência da intenção destas lideranças e sabe qual o destino que lhe está reservado. Mas não recua e enfrenta os dirigentes de forma implacável.

A narração tem como referência a situação socioeconômica da Galileia do tempo de Jesus, uma vez que, quase sempre, as terras estavam nas mãos de grandes latifundiários que viviam nas cidades. Eles administravam as terras arrendando para camponeses que, normalmente, haviam perdido suas propriedades, ou por dívidas ou por corrupção dos latifundiários. Para sobreviver, os camponeses aceitavam trabalhar nas grandes propriedades e pagar o arrendamento em produtos recolhidos. Em anos de pouca colheita, sua situação era de miséria absoluta… Este quadro provocava conflitos sociais frequentes e o aparecimento de movimentos de camponeses que lutavam contra os latifundiários ou contra a carga excessiva de impostos.

É neste contexto que se situa a parábola do Evangelho. Tem a mesma imagem da primeira Leitura, de Is 5,1-7, mas logo se afasta dela. No Evangelho, o proprietário não cuidou diretamente da “vinha”, mas confiou a uns “vinhateiros” que deviam dar-lhe, a cada ano, uma determinada percentagem dos frutos produzidos. Neste contexto se desenrola a narrativa, escrita por meio do gênero literário denominado de “alegoria”. Diferente das “parábolas”, que trazem as mensagens de forma mais velada, nas “alegorias” cada personagem e cada imagem é representativa de realidades concretas. No Evangelho deste dia se pode facilmente compreender que a “vinha” é Israel, o Povo de Deus. O dono da “vinha” é Deus. Os “vinhateiros” são os líderes religiosos judaicos, os encarregados de trabalhar a “vinha” e de fazer com que ela produzisse frutos. Os “servos” enviados pelo “senhor” são os profetas que os líderes da nação, tantas vezes, perseguiram, apedrejaram e mataram. O “filho” morto “fora da vinha” é Jesus, assassinado fora dos muros de Jerusalém.

 Sem dúvida, trata-se de uma denúncia radical. Os “vinhateiros”, ou seja, as lideranças do povo,  não só não entregaram ao “senhor” os frutos que lhe deviam, mas  buscaram destruir, pela raiz, o sonho de Deus: maltrataram e apedrejaram os servos enviados pelo “senhor” e assassinaram-lhe o filho.

Este quadro, tão vivamente descrito, quer nos convocar a uma profunda revisão de nossa forma de trabalhar na “vinha do Senhor”, particularmente neste mês missionário e neste momento histórico do Sínodo: “Por uma Igreja Sinodal, de comunhão, participação e missão”.  Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ