27º Domingo do tempo comum

30/09/2021

A radicalidade das novas relações – Mc 10,2-16 – Estamos no 27º domingo do Tempo Comum. Continuamos seguindo Jesus em suas andanças pela Galileia, quando vai anunciando sua paixão e ensinando especialmente seus discípulos. No episódio de hoje Jesus se despede da Galileia,  e  se põe a caminho de Jerusalém, ao encontro do seu destino final, a morte e morte de cruz. O cenário é  “a região da Judeia, para além do Jordão” (v 1).  Mais uma vez Jesus volta a confrontar-se com seus opositores e trazer seus novos ensinamentos. Os discípulos continuam próximos de Jesus e a se beneficiar de uma instrução especial particular.

A primeira parte da narrativa (10,2-12) é, mais uma vez, um confronto com a Lei Judaica e seus representantes. Entram em cena os fariseus, não para escutar Jesus e ouvir seus ensinamentos, mas para preparar uma armadilha que o comprometesse e se somaria aos argumentos para eliminarem Jesus.. O assunto é a Lei do divórcio, cuja interpretação, do tempo de Jesus, sofria divergências conforme os grupos envolvidos. A questão apresentada pelos fariseus é: “Pode um homem repudiar a sua mulher?”

Diante da questão posta pelos fariseus, Jesus começa por recordar-lhes a Lei: “que vos ordenou Moisés?” (v.3). Isto não significa que Jesus fosse favorável à Lei de Moisés a propósito da questão do divórcio. Era uma concessão, “por causa da dureza de vossos corações”, o que não é o ideal das relações matrimoniais.  Mas Jesus aproveita a provocação para mostrar o verdadeiro sentido das relações matrimoniais e colocar homem e mulher em igualdade de direitos e de deveres. Vai às origens do projeto divino e retoma a intuição originária a respeito das relações matrimoniais, presentes na primeira leitura do Génesis da liturgia.

A fidelidade nas relações matrimoniais consiste em ambos formarem “uma só carne”, ou seja, viverem em comunhão um com o outro, doando-se, partilhando a vida, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo. A separação, o divórcio, será sempre o fracasso do projeto original. O amor não pode ser algo com “prazo de validade”, pois é próprio do amor ser eterno, assumido num compromisso indissolúvel.

Conforme os textos dos domingos anteriores, Jesus vinha instruindo seus discípulos sobre as renúncias necessárias para entrar no Reino de Deus. As relações matrimoniais, segundo o projeto de Deus, também trazem consigo renúncias exigem o abandono de facilidades, superação do amor-próprio, da autorreferencialidade, opção pelo amor radical. O matrimônio assim é metáfora das relações a serem construídas e vividas nas relações fraternas de seus seguidores. Os discípulos, mais uma vez, revelam sua dificuldade em compreender o ensinamento de Jesus.

O texto termina com a cena em que Jesus acolhe as crianças, defende-as e abençoa-as (vv. 13-16). As crianças constituem modelo de discípulo. Sua simples presença questiona os discípulos que não conseguem acolher a lógica do Reino e denuncia o orgulho e arrogância dos fariseus. O reino de Deus pertence aos que vivem na sinceridade e verdade, na simplicidade e na radicalidade de novas relações. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ