4º Domingo de Páscoa

27/04/2023

“Eu vim para que tenham vida”- Jo 10,1-10 – O 4º Domingo da Páscoa é sempre o “domingo do Bom Pastor. A liturgia propõe anualmente um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. Neste domingo, tanto as Leituras, quanto o Salmo de Meditação, a Aclamação ao Evangelho, citam diretamente a figura do Pastor, ou dão pistas para ampliar a reflexão sobre o modo de ser de um Bom Pastor, que é fonte de vida para suas ovelhas. Na nossa atual cultura urbana, a imagem do Pastor não alcança o brilho de seu sentido, como nos tempos bíblicos na Palestina. Necessita-se acionar uma imaginação e buscar uma aproximação do seu sentido.

Olhando o contexto do Evangelho deste domingo, vemos que não se trata de um texto “suave”, ou até um tanto “romântico”, como tantas vezes ouvimos em homilias, reflexões e catequeses. É necessário entender o contexto mais amplo e observar que se trata de uma denúncia da atuação dos dirigentes religiosos dos judeus. Tomando em mãos o Evangelho, vemos que o Capitulo 9, que antecede o discurso do Capitulo 10, trata do cego de nascença. Jesus está em Jerusalém para uma das “Festas dos judeus”, das mais populares, a “festa das colheitas”, na qual os dirigentes faziam questão de se fazerem presentes para enganar o povo. Durante esta festa Jesus cura um cego de nascimento e os dirigentes não aceitam. Eles não acreditam em Jesus e expulsam o ex cego da Sinagoga. Neste episódio ficou claro que os dirigentes não estavam interessados em acolher a luz e nem deixar que o povo escolhesse a liberdade que Jesus oferecia. Não agiam como pastores. Numa espécie de conclusão, nos versículos que antecedem o nosso texto (cf. Jo 9,39-41), Jesus denuncia que eles preferiram continuar nas trevas da sua autossuficiência e impedir que o Povo, do qual eles seriam os pastores, alcance a luz libertadora.

            O texto do Evangelho de hoje, está dividido em duas partes, ou em duas parábolas: Na primeira  (cf. Jo 10,1-6), Jesus assume ser ele “o Pastor”, cuja ação se contrapõe aos dirigentes judeus que se arrogam o direito de pastorear o “rebanho” do Povo de Deus, mas sem serem “pastores”. Jesus não usa meias palavras: os dirigentes judeus são “ladrões” e “bandidos” (cf. Jo 10,1), que se servem das suas prerrogativas para explorar o Povo e usam a violência para manter a sociedade sob a sua escravidão. Aproximam-se do Povo de Deus de forma abusiva e ilegítima. Deus não lhes confiou essa missão, ou seja, eles “não entraram pela porta”. O seu objetivo não é o bem das “ovelhas”, mas o seu próprio interesse. Em Ezequiel 34 temos uma descrição magistral do papel do “pastor” e as denúncias do seu agir corrupto. Já então o profeta Ezequiel anuncia que Deus vai excluir os ditos pastores e Ele mesmo vai assumir o pastoreio do povo. Ao apresentar-se como Aquele “que entra pela porta”, com autoridade legítima, Jesus declara-Se o “Messias” enviado por Deus para conduzir o seu Povo e para o guiar às pastagens onde há vida em plenitude. Ele entra no redil das “ovelhas” para cuidar delas, não para as explorar. Ele as “chama pelo nome”, tem proximidade com todas, indica o caminho que devem seguir.  A sua missão é libertá-las das trevas em que os dirigentes as trazem e conduzi-las ao encontro da luz libertadora (cf. Jo 10,2).

            Na segunda parte (cf. Jo 10,7-9), Jesus apresenta-Se como “a porta”. Aqui Ele já não é o pastor

que passa pela porta, mas é “a porta”. O que Ele quer traduzir com esta imagem? A imagem pode aplicar-se aos líderes que pretendem ter acesso ao “rebanho”. Significa que ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver um mandato de Jesus, se não tiver sido convidado por Jesus; e significa também que ninguém pode ir ao encontro das “ovelhas” se não tiver os mesmos sentimentos, a mesma atitude de Jesus.

O nosso texto termina com a reafirmação do contraste entre Jesus e os dirigentes: os líderes religiosos judaicos utilizam o “rebanho” para satisfazer os seus próprios interesses egoístas, despojam e exploram o povo; mas Jesus só procura que o seu “rebanho” encontre vida em plenitude. “O ladrão vem apenas para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham plenamente”. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ