3º Domingo da Quaresma – 07/03

03/03/2021

“A conversão começa pela religião” – Jo 2,13-25 – 3º Domingo da Quaresma – Ninguém pode negar que a religião exerce grande influência na vida da humanidade. Basta olhar o que ocorreu ao longo de toda a história e o que ocorre neste momento na vida da Igreja e na sociedade: desavenças, calúnias, acusações, ofensas guerras, violência… tudo dentro de um cenário religioso. A própria Campanha da Fraternidade no Brasil, cujo objetivo sempre foi o de gerar mais “fraternidade”, sofre verdadeira perseguição. O papa Francisco, a quem Deus confiou a missão de ser “testemunha do Evangelho” e que o faz de maneira exemplar, sofre perseguições e calúnias pelos “frequentadores do templo”. Neste contexto, o Evangelho deste domingo é de uma oportunidade sem precedentes. O cenário do relato é o Templo de Jerusalém, em clima de festejos pascais. “Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém”. A páscoa, cuja motivação era a celebração da libertação da escravidão do Egito, havia se transformado em nova escravidão. Deixara de ser a festa da vida e da liberdade para alimentar um “covil de ladrões”.  Em primeiro lugar, o sumo-sacerdote e sua família, que obtinham muitos ganhos com os festejos pascais: o sistema de sacrifícios, os aluguéis de tendas no átrio do templo, a instalação de um variado comércio eram fontes de lucro. Lucravam também todos os sacerdotes e signatários do templo. Havia os cambistas que trocavam as moedas romanas por moedas judaicas para que os fieis pudessem fazer suas compras. Certamente lucravam na taxa de câmbio. Havia os diversos comerciantes, cada qual vendendo seus produtos, uns para consumo, outros para o sacrifício. A doutrina oficial produzia a ideologia que garantia o bom rendimento dos festejos pascais, pois oferecer sacrifícios era condição para o perdão dos pecados. E eram em torno de 613 pecados possíveis que exigiam reparação. Este sistema sustentava a cidade e a nobreza sacerdotal, o clero e os empregados do Templo. Tudo feito em cenário religioso, muito distante da Aliança, conforme nos relata a primeira Leitura (cf Ex 20, 1-17). É neste contexto que Jesus vai realizar seu gesto de ruptura, que João coloca logo no inicio do ministério de Jesus. Os sinóticos relatam este evento na última semana antes da Paixão. Mas João oferece importante chave de leitura, colocando este gesto logo no inicio do Ministério de Jesus. A conversão começa pela religião. “Para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo10,10), é preciso mudar o sistema religioso, mudar a imagem e o relacionamento com Deus.  Quando Jesus pega no chicote de cordas, expulsa do Templo os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, derruba a mesa dos cambistas (vv. 14-16), anuncia que chegou um novo tempo, uma nova forma de se relacionar com Deus. E não se trata apenas de uma reforma religiosa, mas a eliminação de todo este aparato religioso. O culto prestado a Deus no Templo de Jerusalém transformara a casa de Deus num ”covil de ladrões” e os líderes judaicos em verdadeiros ateus ou idólatras. Negavam o Deus libertador e promoviam a exploração, a miséria, a injustiça. Infelizmente temos que admitir que este sistema idolátrico se mantenha em nossos dias. Em nome de um deus “acima de tudo e de todos”, em nome de tradições e de doutrinas, promove-se uma religião idolátrica e nega-se o Deus Libertador. A conversão precisa mesmo começar pela religião, pela adoração de Deus “em espírito e verdade”. Ir Zenilda Luzia Petry – FSJ