As tragédias na vida de um Pai amoroso

29/03/2019

As tragédias na vida de um Pai amoroso  Lc 15,1-3. 11-32 – O 4º domingo da quaresma nos  traz uma das páginas mais preciosas do Evangelho de Lucas. Certamente é uma narrativa das mais conhecidas e comentadas: a “parábola do filho pródigo”. Melhor seria chama-la de “parábola do filho perdido” ou do “pai amoroso”. Sem desconhecer as muitas  abordagens com que se pode tratar esta parábola,  é possível fazer uma aproximação  da narrativa por um viés negativo: o fracasso de um pai de família. Primeiro se faz necessário focar nos três primeiros versículos de Lc 15,1-3 : “ Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximaram para ouvir Jesus. Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam: ‘ Esse homem recebe pecadores e come com eles”. Então Jesus tenta abrir a mente dos seus interlocutores  com três parábolas: da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho perdido. Os três quadros estão como que pendurados num único gancho: os que condenam Jesus por acolher publicanos e pecadores.   A bem da verdade, os três quadros estão marcados pela dura experiência de perdas: ovelha, dracma, filho.  Olhemos mais de perto a parábola da liturgia deste dia: a do “filho perdido” ou do “Pai amoroso”.  Numa abordagem não muito comum, poderíamos afirmar que este pai de família vive um fracasso trágico. Um fracasso muito semelhante a tantos pais desolados hoje. Na parábola não aparece a mãe. Em muitas famílias hoje  quem não aparece é o pai.   No caso, o  pai tem dois filhos que não demonstram terem sido bem educados. O mais novo chega a pedir a metade da herança para fazer o que bem entende. Antecipar assim a herança é declarar o pai já morto. O pai nada diz, não repreende, não se mostra magoado, não dialoga com ninguém. Simplesmente atende ao pedido do filho. O que diriam os vizinhos e demais familiares diante de tal cenário? O amor, porém, seguiu as trilhas desviadas do filho.  A saudade se fez comoção. O retorno do filho e a recepção  preparada desconcerta ainda mais. Se o pai não repreende, de nada o acusa, não manifesta a dor sofrida,  o filho pode aprontar outra pior. É o senso comum. O pai, porém, reveste o filho de toda a dignidade e faz festa com as melhores iguarias.  Então ocorre mais uma tragédia na família deste pai amoroso. O filho mais velho, que estava no convívio direto, não aceita a festa, não aceita o irmão, agride o pai. É de se questionar: que valores este pai conseguiu passar aos seus filhos?  Afirma-se que os filhos seguem o exemplo do pai. Neste caso, o pai nada conseguiu passar aos seus filhos. No entanto, diante de tal quadro, fica mais esplendorosa a acolhida gratuita, generosa, perfeita do pai. O pai é puro dom, plena superação da justiça humana,  bondade sem limites, beleza de pura misericórdia.  Isto os fariseus e doutores da lei não conseguem compreender e nem aceitar. Neste limite estamos certamente também nós cristãos batizados e confessos seguidores de Jesus. As tragédias na vida deste pai amoroso fazem evidenciar, com mais brilho, o esplendor do rosto misericordioso  do Pai. Misericórdia é excesso de dom gratuito. Ir. Zenilda Luzia Petry – FSJ

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